quinta-feira, 14 de maio de 2009

Afeganistão, Guantánamo e o governo americano

A notícia de que Barack Obama que proibir a divulgação de fotos que mostram militares americanos maltratando prisioneiros no Iraque e Afeganistão pode ter repercussão negativa à imagem do atual presidente dos EUA, que inúmeras vezes prometeu transparência em relação ao assunto. A proibição das fotos aconteceu pois o governo americano teme que as imagens possam desencadear uma reação hostil às tropas dos EUA.
No entanto, para a Aclu (União Americana pelas Liberdades Civis) a decisão de divulgar as fotos é crucial para ajudar o público a compreender a amplitude e escala dos abusos cometidos contra prisioneiros e também para responsabilizar altos funcionários por autorizarem ou permitirem tais abusos. A alegação para a proibição é que a divulgação colocaria em perigo militares americanos no exterior e que a privacidade dos prisioneiros seria violada.
Esta notícia me fez lembrar do filme “Caminho para Guantánamo” (2006), do diretor Michael Winterbottom. O filme conta a história real de quatro rapazes paquistaneses nascidos no Reino Unido que, devido a um enorme erro do governo americano, vão parar na prisão de Guantánamo e lá sofrem os mais diversos tipos de tortura para que se confessassem terroristas.
No entanto, eles não eram terroristas. A história começa em 10 de setembro de 2001, em Londres, com a mãe de Asif Iqbal, um jovem de 19 anos, anunciando que encontrou uma noiva para ele no Paquistão. Alguns dias depois, Asif chama mais outros três amigos – Ruhel, Shafiq e Monir – para viajarem com ele a fim de conhecerem sua noiva e participarem da festa de casamento.
Como todo jovem, eles aventuram-se em passeios turísticos e vão até a cidade de Karachi. Ao entrarem em uma mesquita para rezar, ouvem do líder local que o Afeganistão precisa de voluntários. De lá, eles vão Kandahar, mas logo a cidade é bombardeada pelos americanos, em represália aos atentados terroristas de 11 de setembro.
Eles tentam retornar ao Paquistão, mas Monir desaparece e os demais são capturados pelas forças aliadas. Assim, eles passam por uma série de torturas, pois ninguém acredita que eles são turistas europeus. Em janeiro do ano seguinte, eles são enviados para Guantánamo, em Cuba, e durante dois anos e meio tentam convencer os guardas sobre suas verdadeiras identidades.
O filme tem tratamento de documentário, com câmeras tremidas e os personagens falando para o telespectador e, por isso mesmo, dá um tom de forte realismo à história. Críticas à parte sobre o sensacionalismo em cima de acontecimentos tão cruéis, o filme é ótimo no sentido de levar ao grande público o conhecimento dessas bases militares que os americanos mantêm em Cuba – o atual governo de Obama determinou o fechamento da base militar, mas sua desativação deve acontecer somente no ano que vem.
Voltando ao assunto do início da matéria, acredito que essas fotos têm, sim, que ser divulgadas. Da mesma maneira como esses quatro amigos inocentes retratados no filme foram pegos e torturados, centenas de outros também devem ter passado por esta mesma situação. Portanto, os cidadãos têm o direito de saber o que acontece nos porões do governo e de serem informados sobre o rumo dos acontecimentos. Afinal, se o governo americano quer virar essa triste página, que seja de maneira transparente.

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