quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Same dream, same destination

Love this music!



Same Dream, Same Destination
Ryuchi Sakamoto
Composição: Roddy Frame e Ryuichi Sakamoto

Kissing in the calm of a lonely station
Cradled in the arms of the great creation
We forget the future and the past is gone
And every road that bends is where the world begins and ends
Shaking all the pain of the life we're living
Stay can ever clean wan a does forgiven
Because it beats believing that we've been deceived
And now we're free to fly it's not a duty to descend
Dreaming of the day when my eyes can open
Opening my eyes to the day that's dawning
Where the sky is higher, where the road is long
Until we're lost in wonder where the world begins and ends
Feeling all the wheels turn, carry me over
Take me to the place, push me further and further
From imagination and the chains of freedom
Not a destination just a place where i can be
What i want, and what i need, it's the same thing
Same dream, same destination

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A barata



Tendo voltado tarde para casa, esmaguei uma barata que, no corredor, me escapava entre os pés (ficou lá, preta, no ladrilho) depois entrei no quarto. Ela dormia. Deitei-me ao seu lado, apaguei a luz, da janela aberta via um pedaço de parede e o céu. Fazia calor, não conseguia dormir, velhas histórias renasciam dentro de mim, dúvidas também, uma genérica desconfiança no amanhã. Ela soltou um pequeno lamento. "Que houve?", perguntei. Ela abriu um olho, grande, sem me ver e murmurou: "Tenho medo." "Medo de quê?", perguntei. "Tenho medo de morrer." "Medo de morrer? Por quê?" Respondeu: "Tive um sonho..." Aproximou-se um pouco. "Mas que é que você sonhou?" "Sonhei que estava no campo, estava sentada na margem de um rio e ouvi gritos ao longe... E eu devia morrer." "Na beira de um rio?" "Sim.", respondeu "Ouvia as rãs... faziam crá, crá." "E que horas eram?" "Era noite e ouvi gritar." "Bem, durma, agora são quase duas horas." "Duas horas?", mas não conseguia compreender, já tornara a pegar no sono.

Apaguei a luz e ouvi alguém remexendo no pátio. Depois, subiu a voz de um cão, aguda e longa; parecia lamentar-se. Subiu, passando diante da janela, perdeu-se na noite quente. Depois abriu-se uma persiana (ou se fechou?). Longe, muito longe, mas talvez eu me enganasse, uma criança se pôs a chorar. Depois, novamente o ulular do cão, longo como antes. Eu não conseguia dormir.

Vozes de homens vieram de alguma outra janela. Eram baixas, como murmuradas entre o sono. De uma sacada abaixo, ouvi um cip, cip, zitevitt, e algumas batidas de asas. "Flório!", ouviu-se chamar de repente, devia ser duas ou três casas mais adiante. "Flório!", parecia uma mulher, mulher angustiada, que tivesse perdido o filho.

Mas por que o canarinho do andar de baixo acordara? Que havia? Com um rangido lamentoso, como se fosse empurrada devagarinho por alguém que não queria fazer-se ouvir, uma porta se abriu em algum lugar da casa. Quanta gente acordada a essa hora, pensei. Estranho, a essa hora.

"Tenho medo, tenho medo", queixou-se ela procurando-me com o braço. "Oh, Maria", perguntei, "Que tem você?" Respondeu com voz tênue: "Tenho medo de morrer." "Você sonhou de novo?" Fez que sim, devagarinho, com a cabeça. "De novo aqueles gritos?" Fez sinal que sim. "E você ia morrer?" Sim, sim, indicava, procurando olhar-me, com as pálpebras grudadas pelo sono.

Há alguma coisa, pensei: ela sonha, o cão uiva, o canarinho acordou, as pessoas se levantam e falam, ela sonha com a morte, como se todos tivessem sentido uma coisa, uma presença. Oh, o sono não vinha e as estrelas passavam. Ouvi distintamente no pátio o ruído de um fósforo aceso. Por que alguém se punha a fumar às três horas da manhã? Então senti sede, levantei-me e saí do quarto para beber água. A triste lâmpada do corredor estava acesa, percebi vagamente a mancha preta no ladrilho e parei, assustado. Olhei: a mancha preta se movia. Ou melhor, movia-se um pedacinho (ela sonha que vai morrer, o cão uiva, o canarinho acorda, pessoas se levantaram, uma mãe chama o filho, as portas rangem, alguém fuma, e há talvez um choro de criança).

Ali, no chão, o bichinho preto que movia uma patinha. Era a do meio, à direita. O resto estava imóvel, uma mancha de tinta que caíra da morte. Mas a perninha remava fracamente como se quisesse subir de novo alguma coisa, o rio das trevas, talvez. Teria ainda esperança?

Durante duas horas e meia, dentro da noite — senti um calafrio —, o imundo inseto grudado no ladrilho pelas suas próprias mucilagens viscerais, durante duas horas e meia continuara a morrer e ainda não acabara. Maravilhosamente continuava a morrer, transmitindo, com a última patinha, a sua mensagem. Mas quem a podia colher às três da manhã, na escuridão do corredor de uma pensão desconhecida? Duas horas e meia, pensei, continuamente para cima e para baixo, a última porção de vida na perninha sobrevivente, para invocar justiça. O pranto de uma criança — lera um dia — basta para envenenar o mundo. Em seu coração, Deus onipotente quisera que certas coisas não acontecessem, mas não pôde impedi-lo porque por ele mesmo foi decidido. Mas uma sombra jaz ainda sobre nós. Esmaguei o inseto com o chinelo e, esfregando no chão, esmigalhei-o num longo rasto cinza.

Então, finalmente, o cão calou-se, ela, no sono, se acalmou e parecia quase sorrir, as vozes se apagaram, calou a mãe, não se percebeu mais nenhum sintoma de inquietude do canarinho, a noite recomeçava a passar sobre a casa cansada, a morte fora inchar sua inquietude em outras partes do mundo.

Dino Buzzati - Naquele Exato Momento

sábado, 23 de janeiro de 2010

Pipa (RN): um paraíso no Nordeste

                                 Vista da Praia do Amor
Quem me conhece bem sabe que gosto de viajar. Como toda sagitariana que se preze, adoro fazer as malas e partir. Gosto também de voltar, mas gosto mais de ir. Com um guia embaixo do braço, uma mala que deveria ser mais leve e muita vontade de conhecer gente nova, costumes diferentes, comidas típicas e todas as coisas inerentes ao ato de viajar, parto com a certeza de que terei ótimas experiências e muita história para contar.

Dessa vez fui a um lugar que já estive há alguns anos: Pipa (RN). Gostei tanto de lá que achei que este vilarejo merecia um repeteco. E, assim o fiz. Adoro viajar sozinha, mas também gosto de companhia. Então, chamei uma amiga, a Joyce, e fomos a mais uma aventura.

Desde a última vez que estive lá, o lugarejo cresceu muito. O número de pousadas e de restauranete praticamente triplicou. E, dessa vez, notei que a praia foi praticamente tomada pelos argentinos, enquanto que na vez anterior eram os portugueses os donos do lugar - dando a entender que o movimento de turistas e empreendedores estrangeiros é cíclico.

A praia de Pipa fica a 80 km da capital (Natal) e pertence ao município de Tibau do Sul. Com uma área de 101.793 km², o lugarejo tem cerca de 11 mil habitantes e uma temperatura média de 27°C.

A região é rica em diversidade de fauna e flora. Praias, rios, lagoas, dunas, falésias, piscinas naturais, manguezais, golfinhos, saguis e tartarugas marinhas são exemplos da riqueza do lugar. Mas, o que mais fica na memória são as falésias - caracterizada por um abrupto encontro da terra com o mar. As falésias formam-se como escarpas na vertical que terminam ao nível do mar e encontram-se permanentemente sob a ação erosiva do mar. As ondas desgastam constantemente a costa, o que por vezes pode provocar desmoronamentos ou instabilidade da parede rochosa.

As praias

                                 Caminho para a Praia do Amor

A Praia do Centro tem fácil acesso, pode-se chegar de carro e é a preferida dos casais com filhos pequenos. A maré é tranquila e quase sem ondas e apresenta piscinas na maré baixa. A Baía dos Golfinhos já pede um cuidado maior para quem quer visitá-la. Como o acesso é feito somente pela praia e pelas pedras, deve-se ficar atento à tábua das marés e ir e voltar na maré baixa!

Não façam como eu e Joyce que nos aventuramos pelas pedras no primeiro dia. Na segunda visita, olhamos a tábua das marés, fomos na maré baixa, mas nos esquecemos da vida e quase ficamos ilhadas não fosse o aviso de um rapaz que vende água e refrigerante. Quando a maré começa a subir, a velocidade e a força da água é muito forte e a probabilidade da pessoa não conseguir voltar e ter que aguardar a maré baixar é grande.

Mas, a aventura vale a pena, pois essa é a praia peferida dos golfinhos. Eles podem ser avistados de manhã bem cedinho ou se o turista fizer os passeios de barco oferecidos pelas agências de turismo. Com o decorrer do dia, os golfinhos se afastam da praia, pois as sardinhas se assustam com o aumento dos turistas e vão mais para o fundo do mar. E, lá vão os golfinhos atrás delas.

                                                         Baía dos Golfinhos

A Praia do Amor também tem acesso difícil: uma escadaria muito íngrime e de madeira ou uma trilha de dificuldade alta pela falésia. Mas, se a maré está baixa, dá para ir pela praia. Estes são os únicos acessos para a praia preferida dos surfistas. As ondas são altas e venta bastante. Apesar do acesso difícil, a Praia do Amor tem quiosques e barraquinhas. No entanto, paga-se R$ 10,00 para ficar embaixo de uma delas.


A Praia do Madeiro é, digamos, a mais badalada. Ela fica um pouco mais afastada do centro de Pipa, cerca de 10 minutos de carro, e também tem acesso por duas escadas de madeira colocadas na falésia. Uma tem acesso pelo Bar do Jegue (o maior da praia) e outra pelo Hotel Village. Para usufruir da sombra dos guarda-sóis, o Bar do Jegue cobra R$ 15,00 (!). Mas, se você quiser só comer por ali, paga somente os 10% do serviço.

A Praia de Cacimbinhas fica no centro de Tibau do Sul e tem acesso fácil de carro (20 minutos de carro do centro de Pipa). O mar é tranquilissimo e não existe cobrança para usar o guarda-sol, somente os 10% do serviço. O por do sol nessa praia é deslumbrante.


                                                       Praia de Cacimbinhas

Um passeio muito legal é de Barra do Cunhaú. Não fui dessa vez, mas o lugarejo e a praia são maravilhosos. Com 8 km de costa, a maré e o vento são de intensidade intensas. Para chegar em Barra do Cunhaú pega-se uma balsa na praia de Sibaúma, também muito bonita.

Santuário Ecológico de Pipa

O Santuário Ecológico de Pipa fica a poucos minutos do centro de Pipa e ocupa uma grande área de mata atlântica com diversas trilhas  que passam por panorâmicos mirantes de onde se vê a Baía dos Golfinhos e, com sorte, o visitante consegue ver golfinhos no mar. Além das trilhas e mirantes, o santuário tem e um pequeno museu biológico com fotos e descrições de tartarugas marinhas, também muito comum na região.

Roteiro gastronômico

A Vila de Pipa é um paraíso gastronômico. Influenciada por muitas culturas diferentes, a culinária é rica em diversidade. Por várias noites pode-se experimentar um novo sabor e desfrutar das diversas ambientações, assim como acontece no Festival Gastronômico da Pipa, que acontece uma vez por ano desde 2004.

Uma ótima pedida é a moqueca de camarão do Restaurante da Dona Maria. Com preço justo, o prato é super bem-servido e dá para duas pessoas. A vista do mar é lindíssima e a trilha sonora é composta de bossa nova e MPB. Outra sugestão é o mexicano Guacamole, com o ótimo guacamole (óbvio), a fajitas e o chili com carne (não comi, mas parecia ótimo). E, também, o La Terrazza, com um delicioso risoto de frutos do mar. Como todos os pratos são super bem servidos, se você não é um glutão, um prato dá para duas pessoas tranquilamente. Além desses, tem ainda o Beach Club, que fica bem em frente à praia e é ótimo para lachinhos à beira-mar.

Lanche no Beach Club
Após o jantar, vá até a sorveteria Real de 14. O sorvete é artesanal e o sabor maravilhoso. Experimente os sabores das frutas típicas do nordeste e você não irá se arrepender. Como sou chocólatra assumida, embarquei quase sempre no sorvete de Ferrero e pedia para experimentar os sorvetes de frutas. O nome desta sorveteria é emprestado de um povoado situado ao norte do México, a uma altitude de 2.750 metros.

Ainda bem que andei muito em Pipa, muito mesmo. Assim consegui gastar um pouco das tantas calorias que ingeri nessa viagem!

O rato




Um velhinho que vivia sozinho começou a ser atormentado por um ratão. Era a primeira vez na vida. Houve entre os dois uma longa guerra. Naturalmente os amigos davam conselhos ao velhinho, uma ratoeira, um veneno. Mas, devagarinho, o rato ia ganhando. Tímido, o velho foi escorregando para uma abjeta submissão. Agora, o rato lhe falava atirando-lhe no rosto todas as insídias feitas para fazê-lo cair na ratoeira. Como a própria vida que, um belo dia, de repente, se torna dura e fortíssima e o homem quebra ou então se habitua e desce (somente pensa no assunto nos instantes raros em que olha para trás). Ora, embora já tenha chegado o inverno e os serões sejam gélidos, o velhinho não gosta de voltar para casa porque sabe que encontrará o rato sobre a mesa de jantar, esperando e guinchando; e ele então deve começar a preparar a refeição, enquanto o bicho pula de um lado para outro, experimentando e sujando tudo, com os bigodes e o rabo dentro do molho de tomates. Um dia até o bicho o humilhará, acusando-o de ter meditado a compra de um gato!

Dino Buzzati, "Naquele Exato Momento".

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Um apelo da mãe natureza

Essa música tem mais 30 anos e já falava sobre os abusos que o homem comete contra a natureza....

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A tragédia em Ilha Grande


Ilha Grande, em 2004.

As notícias sobre as tragédias em Ilha Grande e Angra dos Reis, com mortos e feridos vítimas dos deslizamentos de terra causados pelas chuvas torrenciais durante a passagem de ano me deixaram muito triste.

Estive em Ilha Grande duas vezes, uma em 2004, e outra há mais de tempo, quando ainda estava na faculdade. Por conseguinte, também estive em Angra, que é um dos locais onde pegamos uma grande balsa para chegar até a ilha. Aquele lugar é tão lindo, mas tão lindo, que uma notícia dessas causa surpresa e espanto a qualquer pessoa. Mas, depois, olhando as imagens e fotos do acidente, pensei: "Puxa, mas aquelas casas e pousadas ficam no morro. Como nunca pensei que isso poderia acontecer?"

Quando a natureza é tão bela, tão formosa e exuberante como é em Ilha Grande e Angra dos Reis, idéias de acidentes e tragédias não têm espaço, não têm vez. Como vamos pensar em coisas ruins em um cenário tão lindo? Mas, a natureza sabe se impor e dar os seus recados já que temos tratado a nossa mãe Terra com tão pouco respeito.

Quanto mais terá que chover, quantas outras tragédias como esta terão que acontecer para que os governos, e  cidadãos também, se unam para tomar as decisões acertadas para evitar mais aquecimento global e os terríveis acontecimentos já previstos? Parece que a Terra está se vingando do resultado pífio da conferência do clima na Dinamarca: chuvas torrenciais no Brasil e nevascas de grande porte em países da Europa e no EUA.

Enquanto isso, milhares de pessoas morrem, sofrem, perdem suas casas, seus mantimentos e seus filhos. E, oram a Deus por clemência.

Registro aqui uma foto que tirei da última vez que estive lá. E, também eu, peço a Deus que estas chuvas de verão sejam menos agressivas.

Foto: Juliana Parlato (arquivo pessoal)

Sem Compromisso - Deixe a Menina

Grande Chico Buarque!



Sem Compromisso
Composição: Nelson Trigueiro/ Geraldo Pereira

Você só dança com ele
E diz que é sem compromisso
É bom acabar com isso
Não sou nenhum pai-joão

Quem trouxe você fui eu
Não faça papel de louca
Prá não haver bate-boca dentro do salão

Quando toca um samba

E eu lhe tiro pra dançarVocê me diz: não, eu agora tenho par

E sai dançando com ele, alegre e feliz
Quando pára o samba
Bate palma e pede bis

Deixa a menina
Composição: Chico Buarque

Não é por estar na sua presença
Meu prezado rapaz
Mas você vai mal
Mas vai mal demais

São dez horas, o samba tá quente
Deixe a morena contente
Deixe a menina sambar em paz

Eu não queria jogar confete
Mas tenho que dizer
Cê tá de lascar
Cê tá de doer

E se vai continuar enrustido
Com essa cara de marido
A moça é capaz de se aborrecer

Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz
E atrás dessa mulher mil homens, sempre tão gentis
Por isso para o seu bem
Ou tire ela da cabeça ou mereça a moça que você tem

Não sei se é para ficar exultante
Meu querido rapaz
Mas aqui ninguém o agüenta mais
São três horas, o samba tá quente
Deixe a morena contente
Deixe a menina sambar em paz

Não é por estar na sua presença
Meu prezado rapaz
Mas você vai mal
Mas vai mal demais

São seis horas o samba tá quente
Deixe a morena com a gente
Deixe a menina sambar em paz