quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O mundo, a mídia e a gente


Outro dia, estive pensando em como as notícias ruins influenciam nosso dia-a-dia.
Desde a hora que acordamos até o último minuto antes de dormir, somos bombardeados por todos os lados com notícias de catástrofes, acidentes, crises financeiras, deslizamento de terra, inundações, seca, fome, miséria, estupros e sabe-se lá Deus o que mais.

O mundo está, realmente, meio torto, meio virado do avesso. As aulas de reportagem e redação que tive na faculdade e os anos que passei lendo notas de agências de notícias para reescrever e torná-las mais palatáveis não foram suficientes para que eu me acostumasse a esse bombardeio de negatividade. Muito pelo contrário. Estou cada dia mais fraca para esse jornalismo de “porta de cadeia”.

Quando nos formamos aprendemos que notícia boa é aquela que chama a atenção. Também aprendemos que se vamos cobrir a posse de um político e no meio do caminho uma ponte desaba, a pauta muda e temos, necessariamente, que cobrir o desabamento da ponte. O político, com certeza, mandou seus assessores registrarem o momento de sua posse e conseguiremos o discurso via assessoria de imprensa. A ponte que desabou passa a ser, então, a notícia que vai para a primeira página do jornal.

No entanto, em um mundo repleto de tragédias, atropelamentos, falcatruas, desvios de dinheiro, crises financeiras que assolam até os EUA (quem diria!?), ganha a TV que souber noticiar sem tentar ganhar em cima da tragédia dos outros; ganha o portal que souber dosar notícias ruins e fatos bons; ganha o jornal que, além de noticiar os fatos catastróficos, explique ao leitor o porque de tal e tal situação e como a população pode agir para tentar superar a crise ou diminuir o número de acidentes no trânsito.

Daí me pergunto: será que o mundo está tão virado assim, ou a mídia faz questão de noticiar o que há de mais escabroso para ganhar audiência, aumentar os cliques em seus sites e a venda de jornais? A audiência vale mais do que uma notícia bem dada? O telespectador gosta mesmo de coisas ruins? Será que é isso mesmo que dá audiência?

Por outro lado, sou obrigada a aceitar que vivemos mesmo em um período onde os valores estão todos trocados e um doido bêbado dirigindo um Porsche de R$ 300 mil tem a infelicidade de encontrar em seu caminho o carro de uma advogada incauta que passa no sinal vermelho em uma rua estreita do bairro de Moema (SP). Qual o motivo da moça passar no farol vermelho à noite? Ah, te dou um doce se você responder que ela estava com medo de ser assaltada....

E, assim vamos vivendo.... Com medo de sermos assaltados, medo de sermos atropelados, inseguros quanto às notícias que chegam sobre o cenário econômico mundial; duvidando que economias de países como Portugal, Espanha, Itália e Grécia, antes tão sólidas, estejam falindo em meio às dívidas que não conseguem pagar e pedidos de empréstimos.

Sim, a economia do Brasil está aquecida. Vamos sediar a Copa daqui três anos, o turismo vai bombar por aqui e o número de vagas de emprego aumenta a cada mês. Então, por que não divulgamos isso de maneira mais escancarada?

Talvez porque notícias como a morte de Amy Winehouse e do atentado na Noruega causem tanto impacto que as notícias boas ficam para o final do telejornal, quando todos já estão pensando no próximo capítulo da novela que, aliás, parece continuação do noticiário: um desfile de criminosos se dando bem e fugindo da prisão; pitboys dando surras em gays e um desfile interminável de traições. Bom, pelo menos ali, o que acontece é ficção. Mas, daqui a pouco é hora de dormir e, se não tomarmos cuidado, vamos até sonhar com desgraça....