domingo, 30 de novembro de 2008

A escrita como terapia

Fiz terapia por alguns anos e, atualmente, vou "papear" com minha terapeuta de vez em quando. Existe algo muito interessante na terapia que é o falar sem o receio de estar se expondo. O que difere muito do falar para um amigo na mesa do bar. Freud foi extremamente inteligente quando criou o mecanismo de associação livre, em que o paciente fala o que lhe vem à cabeça, deitado em um divã, durante quase uma hora.

Quando comecei a escrever esse blog, percebi que a escrita também é uma forma de terapia, já que ao escrever reorganizamos as idéias e passamos a pensar de maneira mais coerente - exatamente como acontece na terapia. O cérebro grava aquilo que está ali escrito e passa a realizar as sinapses de maneira diferente. Não sou perita no assunto, mas acho que é isso que acontece. Existem até terapeutas que sugerem aos seus pacientes que escrevam, ou gravem, tudo o que vem à mente.
Apesar deste não ser o propósito primeiro deste blog, acaba funcionando como tal. O que é bem legal, pois não preciso pagar um terapeuta e vocês ainda lêem o que escrevo. Perceberam: livre associação!!!!!!!

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Mimetismo

É normal, e até saudável, admirarmos os outros e termos algumas pessoas como modelos a serem seguidos. O que não é legal é querer ser essa pessoa, querer ter seus pensamentos, querer ter a vida da outra pessoa. Chega a ser doentio a cópia do estilo, das falas e o jeito de ser de outra pessoa. A imitação é uma forma de roubar o outro naquilo que ele tem de mais valioso: sua identidade.
Na infância, aprendemos pela cópia. Copiamos o que os professores nos ensinam, copiamos as letras para formar as palavras, copiamos os números para aprendermos a fazer as contas e podemos até mesmo imitar um amigo ou amiga de que gostamos muito, afinal, eles são tão legais que queremos ser como eles.
No entanto, na idade adulta isso já não saudável. Cada um tem sua identidade, suas características e modo de ser. A imitação traz para quem está imitando apenas o vazio, pois a vida do outro, só pode ser vivida pelo outro.
Acho muito estranho quando leio que determinado vestido, ou determinado corte de cabelo de uma atriz, foi copiado à exaustão por 70% das mulheres do planeta como, por exemplo, o corte de cabelo da atriz Jennifer Aniston, quando atuava em Friends; ou as bolsas das personagens das novelas da Globo. É ainda mais nonsense perceber que alguém copia o que o outro fala ou apodera-se da idéia do outro.
Sei que vivemos em um mundo de aparências e que, geralmente, nada se cria, tudo se copia. A indústria da moda e do entretenimento existem justamente para isso: criar padrões de comportamento. Então, fala-se o que todo mundo fala, usa-se as gírias que todo mundo usa e o mesmo para o comportamento, onde se imita o jeito dos atores, atrizes, apresentadores e participantes de realities shows...
Mas, é bom ter cuidado para não cair no mimetismo constante. Ou seja, aquele tipo de comportamento em que você copia eternamente o outro e, no fim, não sabe exatamente quem você é ou qual o seu propósito no mundo. O que sobra disso só pode ser um vazio muito grande.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Tempo, tempo, tempo

Esses dias, a morte foi um assunto recorrente. Soube que o pai de minha professora de inglês teve morte cerebral e está aguardando todos os filhos voltarem para a África para poder, digamos, morrer de verdade. E, ao folhear o livro “Para Francisco” - uma compilação de vários posts do blog criado por Cristiana Guerra, também me deparei com o mesmo tema.

Essas “coincidências” me fizeram lembrar do meu pai (na foto acima, estou eu - quando tinha 8 anos, ele e minha mãe) e percebi que pode passar o tempo que for, a dor da perda está ali, sempre presente. Lembrei de vários momentos em que estive ao seu lado e momentos em que gostaria de estar, mas não estive. A distância é sempre algo muito difícil de se lidar. Mas, a distância forçada, que não temos como trazer a pessoa de volta, de jeito nenhum, é ainda pior.
Fiquei muito triste ao ler os posts de Cristiana e me vi em vários deles. Como o marido dela, meu pai também faleceu de repente, assim sem avisar, após um acidente....

Demorou muito tempo para eu me recuperar dessa dor, que é indescritível. A relação entre pais e filhas é muito peculiar e, acredito, a minha com ele era peculiar ao extremo. Éramos distantes e próximos ao mesmo tempo. Ao seu modo, ele me ensinou muita coisa e, quando me olho no espelho, vejo que tenho muito dele. Não apenas os olhos e as sobrancelhas, mas a mania de falar sem pensar direito no que estou falando, a mania de comprar livros que sei que não terei de tempo de ler, a mania de escrever, a mania de contestar tudo o tempo todo e tantas e tantas outras coisas.

Hoje percebo que ainda tenho muito o que elaborar sobre minha história com ele, pois deixei de falar muitas coisas, deixei passar muitas oportunidades de estar ao seu lado e falar de todo o amor que sinto por ele. Aliás, somente agora, percebo tudo isso e, somente agora, percebo que trago muito dele em mim. O tempo, como sempre, é “um senhor tão bonito”.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Amor Incondicional


Olhei aquela bolinha de pêlo branco dentro da gaiolinha e me apaixonei. Não estava muito certa de que queria levá-lo para casa, afinal trabalho o dia inteiro, chego tarde em casa e, em alguns dias, chego ainda mais tarde por conta de um curso tenho que ficar mais umas duas horas na rua.

Mas, aqueles olhos redondos e escuros feito jabuticabas e o nariz rosado me seduziram e não consegui dizer “não” à tentação. Cheguei a ir ao pet shop umas cinco vezes antes de “levá-lo” para casa. Sim, levá-lo entre aspas, pois um cachorrinho desses, de raça e com pedigree, a gente compra. Mas, isso é um “pequeno” detalhe e sempre digo que o tirei do pet shop.

Acordava e já me lembrava dele... Puxa, como é que pode? Não sabia que existia paixão à primeira vista por cachorros. Então, pensava: “Ah, ele é muito bonitinho. Essa hora já não está mais lá”.

Então, faltava às aulas de yôga e ia ao pet shop só para ver aquela fofura pulando de um lado para outro. Mas, eu me torturava e torcia para que ele não estivesse lá. Ficava matutando: “Quem vai ficar com ele durante o dia? Como ele vai aprender a fazer coco e xixi no lugar certo se eu fico mais de 9 horas fora de casa? Ai, como seria bom se eu fosse dondoca e não tivesse que trabalhar o dia inteiro!”.

E abria páginas e páginas na internet buscando informação sobre cachorros malteses, apartamento e adestramento. No fim, o amor falou mais alto e a bolinha de pêlo branco veio comigo sentado no banco do passageiro.

Logo resolvi que o nome dele seria Frederico. Mas, lógico que, para encurtar, o chamo de Fred, Fredie, Derico e, quando estou bem-humorada, vira Flinstones, “seu” Barriga (já que está meio gordinho) e vários outros nick names. Quando ele apronta é Fre-de-ri-coooooo!!!!!

Quando as pessoas diziam que cachorro é igual criança, achava um exagero e pensava que elas eram meio loucas. Agora, não acho mais. Os cachorros são como crianças, sim. Fazem arte, latem de noite quando você está no melhor sonho, têm ciúmes e não comem a comida que você insiste em dar. Tenho um sobrinho e sempre me pego comparando um com o outro.... Os dois são muito parecidos na manha e na desobediência. (Que meu irmão não leia esse post!).

Cachorros dão trabalho, sim. E, você tem que estar muito certo de que quer um desses em sua vida, pois muda completamente sua rotina. Mas, vale muito a pena. Você pode ficar bravo, dar bronca e repreender e, três minutos depois, ele está ali ao seu lado, pronto para mais um passeio, mais um carinho e mais uma aventura. Acho que isso é o que chamam de amor incondicional. Realmente, todos os cachorros vão para o céu!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Passeio Socrático


Frei Betto

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'.. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'.

'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã....' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'

Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três ivrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…
A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos.

A palavra hoje é 'entretenimento' ; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su­gestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor.. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno.... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald's…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: 'Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.'


Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Luis Fernando Veríssimo e outros, de 'O desafio ético' (Garamond), entre outros livros.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Meditação Transcendental

A meditação transcendental chegou em minha vida durante um período de muita curiosidade e experimentação. Eu já conhecia e praticava o reiki e outras técnicas de transmissão de energia que, de um certo modo, trazem calma e repouso. Mas, eu queria aprender a meditar e, pesquisando, encontrei bastante informação sobre diversas técnicas de meditação.

Optei pela meditação transcendental, talvez por saber que o cineasta David Lynch pratica e que os Beatles praticaram durante um tempo... Não sei ao certo, mas acho que isso também pesou na escolha. A técnica foi criada por Maharishi Mahesh Yogi (foto ao lado).

Esta meditação é simples e proporciona que experimentemos, durante 20 minutos, o repouso em alerta. Durante a prática, a mente se aquieta naturalmente até que chegamos ao relaxamento profundo, mas em estado de consciência plena. Quando a mente se aquieta, o corpo também se aquieta e alcança o estado de repouso e relaxamento mais profundo do que o período mais profundo do sono profundo. Tal estado de relaxamento elimina o estresse e a fadiga e é a base para o aumento de criatividade e inteligência e melhora na saúde.

Para a prática da meditação, é necessário aprender um mantra que o professor ensina na iniciação. É óbvio que não existem tantos mantras no mundo para as centenas de milhares de pessoas que praticam esta meditação. Na verdade, os mantras são ensinados de acordo com a idade e perfil do praticante, coisa que descobri depois, mas que não tem a menor importância.

Acredito que o que conta é a iniciação em si. Sim, porque a iniciação é um momento especial e envolto em uma aura de mistério. Para se ter uma idéia, durante a primeira prática, tive uma experiência fora do comum: os pensamentos simplesmente sumiram. Eu estava ali, sentada e relaxada e, alguns minutos depois, não havia pensamentos! Algumas imagens vinham à mente e iam embora. Não sei precisar se isso aconteceu em poucos minutos ou se vivi essa experiência por um longo tempo. Mas, quando me dei conta do que estava acontecendo, senti uma espécie de êxtase.

Então, como sempre acontece quando nos damos conta de estar vivendo algo muito bom, voltei ao Planeta Terra e senti uma espécie de medo do desconhecido, que logo foi embora... Então, pensei: “Caramba, não que esse troço é bom mesmo!”. Passaram-se alguns minutos e a meditação acabou. Ou melhor, a professora me tirou daquele estado de transe. Foi realmente um momento mágico!

Depois que participamos do curso, que dura uma semana, e aprendemos a meditar, temos o desafio de praticá-la duas vezes ao dia, todos os dias. Algo que requer MUITA disciplina. Não vou dizer que sou tão disciplinada assim. Tenho períodos de prática contínua e disciplinada, e períodos que simplesmente “esqueço” de meditar. Para voltar a praticar logo em seguida, arrependida.

Uma coisa é certa: a mente tranqüila é muito mais criativa, responde melhor às atividades do dia-a-dia e acontece uma coisa ainda mais interessante, a sincronicidade. Ao meditar, e acredito que todas as práticas de meditação proporcionem isso, entramos no ritmo do Universo e coisas muito legais começam a acontecer!

O Encanto de David di Michellangelo


Um museu que deve constar de sua lista de visitas em uma viagem à Itália é La Galleria dell'Accademia (Galeria da Academia), Florença. Lá, em meio a diversas obras de movimentos artísticos italianos, como Trecento I, Trecento II, Ottocento, alguns Gioto e diversas Madonnas (con Il Bambino e Santi, nel trono con Il Bambino, e variações do mesmo tema), vemos no centro da Galleria, imponente, David di Michellangelo.

Em um primeiro momento, é difícil acreditar que estamos vendo com os próprios olhos a escultura. Não estou falando apenas por mim, mas uma olhada ao redor e dava para ver a expressão de encanto e surpresa de todos que estavam ali. Literalmente, fiquei de boca aberta! Além da altura da obra, 4 metros, chama a antenção o jogo de claro e escuro, e também o local onde ela está exposta, em que uma clarabóia deixa a luz de fora entrar. A obra é de uma perfeição tão grande, com os detalhes dos músculos e o olhar de vitória de David, que temos quase certeza de que estamos diante de uma escultura feita por deuses.

Uma das esculturas mais famosas do mundo, David di Michellangelo está na Galleria dell'Academia desde 1873. A estátua, feita em mármore branco, foi idealizada entre os anos de 1501 e 1504 para ser colocada na Catedral de Florença.

Mas, Michelangelo criou um personagem bíblico sem roupas, com aspecto potente e de herói da Antiguidade. Então, na época, os administradores da cidade preferiram colocar a escultura em outro local: na Piazza della Signoria, em frente ao Palazzo Vecchio, onde ficou por cerca de 350 anos.

Símbolo dos ideais da Florença dos primeiros anos do século XVI, a grande figura de David, aos poucos, tornou-se sinônimo da perfeição das formas, caracterizada por uma beleza além de seu tempo.

Obviamente, não pude tirar fotos da escultura. Muitos japonses amalucados tentaram e, alguns, conseguiram, mas eu tenho uma certa noção do efeito negativo de milhares de flashs em um mármore branco e achei melhor nem tentar. A foto que tirei é de uma réplica que fica na Piazza della Signoria, primeiro endereço da obra. Não é como o original, mas é também imponente. Aliás, nesta mesma praça existem outras esculturas interessantes (não tanto como o David), mas isso já é assunto para outro post.

Vale a visita e vale o preço:

€ 10,00 e € 5,00 il ridotto (ou seja, meia entrada para crianças, estudantes e terceira idade)










segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Os Estereótipos

Uma coisa que me deixa realmente fora do sério é a mania, atualmente virou uma mania, de rotular uns aos outros. É muito simples colocar alguém dentro de uma caixinha e dizer: “fulano é metódico” (porque gosta de acordar no mesmo horário todos os dias, inclusive aos finais de semana), “cicrano é intelectual” (porque usa óculos), “a Mariazinha é detalhista” (pois sempre lembra de um detalhe que foge aos outros).

Tudo bem que temos características que são mais marcantes que outras, mas até aí sermos rotulados por apenas um lado nosso, por uma característica que o interlocutor percebeu como mais forte, dai-me forças Senhor!!!!! Se tal pessoa diz que somos de um determinado jeito é porque ela nos viu dessa maneira e deixou escapar uma série de outras qualidades e defeitos que os desavisados só percebem depois de algum tempo convivendo com a pessoa em questão. Muitas vezes, nem uma vida inteira é suficiente para conhecermos alguém.

Outro dia, na aula de inglês, tínhamos diversas palavrinhas para rever, todas elas sobre características e personalidades, tais como moody person (aquela pessoa que muda de humor a todo instante), confident (aquele que é seguro do que diz e pensa), observer (observador), shy (tímido), extroverted (oposto de shy), friendly (amistoso) e, tantos outros.

Vários exercícios propostos, vários diálogos entre os alunos até que a teacher sugeriu que analisássemos uns aos outros. Ela apontaria um de nós e os outros teriam que dizer o que aquela pessoa transmitia aos outros. “Tipo assim”, “what this person says to you?” .

A sala não é pequena e eu fiquei praticamente pro final, pois estava do lado oposto ao início do círculo. Quando chegou minha vez, todos exclamaram: analytical !!!! Eu falei: “Whyyyyyyyyyyyyyyy?”.

Como assim, todos da turma me vêem como uma pessoa analítica???? Ok, é uma boa qualidade ser analítica. Analytical = a logical mind. Uma pessoa que tem mente lógica. É uma boa qualidade. Mas, e o resto? Talkative (falante), friendly, nice (legal), open minded (cabeça aberta) – e pouco convencida(!). É até uma surpresa os colegas me reconhecerem dessa maneira, já que sempre optei pela área de humanas e não sou muito chegada aos números.

Então, fiquei pensando: será que nos tornamos aquilo que os outros percebem na gente? As pessoas nos vêem de uma determinada maneira, nos tratam de acordo e acabamos respondendo da maneira esperada. E vira uma bola de neve, você acaba se tornando o que elas esperam... Bom, fiquei meio confusa com o que acabei de escrever... Mas, é uma coisa para se pensar.

Uma Vitória Histórica

A vitória de Barack Obama é prova contundente de que o mundo tem jeito, sim. É impressionante o poder de persuasão que ele tem, levando às urnas eleitores que não são obrigados a votar, mas que votaram porque acreditam que ele será a resposta para a mudança que tanto esperam. As manifestações de apoio a Obama vindas de diversos países, após o anúncio de sua vitória, deixa espaço para o sonho e a esperança.

A eleição de Obama carrega em si a vitória das minorias em um país marcado pela segregação racial. Há 20 anos, ou até mesmo 10 anos, seria impossível imaginar que um negro, ou melhor, um afro-americano, poderia sequer almejar chegar tão longe. Mas, ele o fez e conseguiu.

Até 50 anos atrás, os afro-americanos eram segregados por lei nos Estados Unidos. A segregação racial nos EUA começou a ser legalizada em alguns estados, logo depois da abolição da escravidão, em 1865, e com o fim da Guerra Civil Americana. Não é necessário nem citar a Ku Klux Klan, que lutava pela supremacia branca no país. Algo realmente vergonhoso.

Alguns casos isolados de luta pela igualdade podem ser lembrados, como o da costureira Rosa Parks que, ao viajar em um ônibus no Alabama, recusou-se a ceder seu lugar a um branco. Isso aconteceu em 1955 e, nessa época, ainda valia a separação de brancos e negros nos assentos dos ônibus. Rosa Parks foi presa e o caso ganhou tanta repercussão que a corte do Alabama declarou inconstitucional a segregação racial nos meios de transporte.

Lembremos também de Martin Luther King que lutou pela igualdade até ser morto, em 1968. Nos anos 60, Malcom X e os Panteras Negras também lutaram pela defesa dos direitos negros, apesar de nem sempre usarem os métodos da não-violência, como pregava Martin Luther King.

Mas, a vitória de Obama representa algo bem maior do que “apenas” a vitória de uma minoria. É a resposta da democracia e, como o próprio Obama disse em seu discurso, é a “resposta dada pelas filas que se estenderam ao redor das escolas e igrejas em um número como esta nação jamais viu, pelas pessoas que esperaram três ou quatro horas, muitas delas pela primeira vez em suas vidas, porque achavam que desta vez tinha que ser diferente e que suas vozes poderiam fazer esta diferença”. Realmente, sou obrigada a dar a mão à palmatória e reconhecer que, sim, “os Estados Unidos são um lugar onde tudo é possível”.

Além disso, Barack Obama é a globalização em pessoa. Filho de pai negro - natural do Quênia, e mãe branca, de Wichita, no Estado do Kansas, Barack nasceu em Honolulu, no Havaí, em 1961. Após dois anos, os pais se separaram e Obama foi morar na Indonésia, época em que a mãe casou-se com um indonésio. Mais tarde, foi morar no Havaí, com os avós maternos. Para finalizar o caldeirão de diversidade, ele cursou direito em Harvard (!).

Se para muitos, toda essa história de separações, idas e vindas, seria pretexto para ir parar em um divã, para Obama a miscigenação e o conhecimento de culturas tão distintas lhe deu condições de criar uma personalidade forte, carismática e, acima de tudo, ele teve a oportunidade de visualizar e sentir mundos tão diferentes. Percebemos isso em seus discursos inflamados, mas com uma lógica de raciocínio indiscutível.

É claro que ele terá pela frente uma tarefa árdua. Ele não é um Salvador da Pátria, como muitos o estão querendo rotular. Ele acenou com uma mudança possível e muitos acreditaram nele. Ponto final. Deixemos de lado o marketing político e a retórica para apreciar o homem que acreditou que chegaria lá e conseguiu.


sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A amizade e o sempre

Durante a vida encontramos muitas pessoas. Algumas mais especiais que outras, que tocam mais nossos corações e deixam suas marcas de uma maneira mais profunda do que outras. Então, entre tanta gente que existe no mundo, entre tantos lugares que freqüentamos, elegemos um e outro para serem nossos amigos, nossos amigos mais queridos. Não importa o nome, o endereço, a família de onde venha, o que importa é a empatia e afinidade que surgem entre duas pessoas.

É engraçado pensar que, se não tivesse freqüentado aquela escola do bairro onde morava, meu grupo de amigos seria totalmente diferente. Até mesmo a maneira de pensar e agir seriam outras. A faculdade, então, nem se fala! Além de formar pensadores, tem o poder de juntar pessoas com perfis tão diferentes, mas com vontades e desejos tão iguais e permanentes. Aí está o poder mágico do acaso que aproxima as pessoas.

Por outro lado, os sonhos que unem as pessoas, podem afasta-las, pois a vida é cheia de caminhos e ruelas, e quando nos damos conta, optamos por uma estrada que não tem nada a ver com aquela que nosso melhor amigo escolheu. Puxa vida, como é difícil caminhar sem aquele sorriso especial ao nosso lado, sem a cumplicidade, sem o bate-papo e a sensação de ter em quem contar. É claro que estamos sempre conhecendo gente e fazendo amizades. Mas, por favor, não vá me dizer que em toda esquina conhecemos pessoas legais.

Então, temos que apelar para outra mágica, aquela que torna todos os momentos bons em memórias e lembranças. Podemos usar o tempo e espaço a nosso favor e eternizar um momento, como nas fotografias. Tenho absoluta certeza de que a eternidade é feita dos momentos especiais que tivemos com nossos melhores amigos
!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Enfim, criou-se o blog!

Após muita elocubração, devaneios, escritos que foram para o lixo ou simplesmente ficaram impressos na mente, vou dar o start no meu blog. Sim, resolvi criar um blog! Quer dizer, esta resolução já havia sido feita há algum tempo, mas faltava a ação virtual. Porque colocar palavras no papel é muito fácil: você escreve e você mesmo lê. Simples assim. O lance é publicá-las, colocar o seus pensamentos ao alcance de todos, mesmo que seja num espaço virtual. Adeus às agendas, aos diários, às folhas cheias de palavras, muitas vezes sem conexão. E, viva a Era Virtual! Onde tudo é possível, todos expõem suas idéias e impressões.

Num primeiro momento, pensei em falar sobre a viagem que fiz à Itália - uma espécie de guia de viagem, afinal, conheci pessoas maravilhosas, lugares incríveis, museus com belezas indescritíveis e obras de arte que só conhecia por catálogos e promoções da Folha de Domingo. A Itália é um roteiro que deve fazer parte do itinerário dos sonhos de todo mundo. É realmente maravilhosa.

No entanto, durante a viagem esqueci de um detalhe importantíssimo! Anotar tudo que estava vendo e todas as sensações maravilhosas que ocorriam pelo meu corpo! E, agora, já se passaram sete meses que voltei de lá e muita coisa ficou perdida em meio a tantas notícias que ouvimos, tantas tragédias que aconteceram durante esse tempo, tanta informação importante e, também, tanto lixo e desserviço à população que entra em nossa casa e em nossa vida pelos meios de comunicação. Não, não estou aqui para detonar a imprensa, mesmo porque sou jornalista e trabalho em uma emissora de TV. Mas, convenhamos que é impressionante o poder negativo que os noticiários exercem sobre a gente.

Mas, podem ter certeza, que à medida que for escrevendo sobre diversos assuntos, as boas emoções e memórias que esta viagem me trouxe irão vir à tona e colocarei no papel, ou melhor, neste blog! Sintam-se à vontade para fazer comentários. Críticas são bem-vindas!

Boa leitura!