sábado, 21 de novembro de 2009

O maltês e a pitbull


Toda noite é a mesma coisa. Assim que chego em casa, Frederico pula, querendo mostrar a guia vermelha em cima da mesinha da sala - como se eu não soubesse ou não lembrasse onde deixei a guia na noite anterior.
É quase um trabalho de monge budista acalmar o cachorro que pula, mesmo com luxação na patela traseira, e dá uns grunhidos para alertar que está quase soltando o xixi que guardou o dia inteiro para soltar pelas redondezas na tentativa de atrair alguma cachorrinha.
Coitado, mal sabe ele que já é castrado e que, mesmo se atrair alguma cadelinha, a relação vai ficar apenas na amizade mesmo. Li em algum lugar que mesmo castrados, os cachorros também copulam, mas achei isso bem improvável, apesar do meu cachorro ser muito hiperativo. Troco os sapatos por algo mais confortável, pego uns saquinhos plásticos para recolher as necessidades do fofucho e lá vamos nós para mais uma aventura. Sim, porque passear com meu cachorro é uma grande aventura.
Primeiro, descemos vários lances de escada, pois ele não suporta que outras pessoas entrem no elevador conosco. Ainda estou para descobrir se essa reação é algo para me proteger ou se é porque ele é mesmo antisocial. Então, para evitar aborrecimentos, já coloco o pimpolho para fazer uns exercícios físicos. Após os 11 lances de escada, finalmente, chegamos à portaria do prédio. "Não, Frederico, aí não!" Falo com firmeza para ele não sair demarcando toda a área social do prédio. Engraçado, isso ele atende e obecede. Mas, parar de latir loucamente quando alguém entra no elevador.... Ainda não consegui essa proeza.
Ah... a rua. Chegamos à rua. E é uma luta fazê-lo parar de puxar a guia. Um poste, outro poste e, com a bexiga mais vazia, ele se acalma e começamos o passeio propriamente dito até chegarmos a um estacionamento das redondezas. Lá, livre, leve e solta está uma pitbull que, para surpresa de todos, é mansinha, mansinha, mansinha. Um amor de cachorra. Mas, eu conheço a peça rara que crio dentro de casa e ele já quis encarar um rotwalleir da vizinhança. Então, coloco o Frederico no colo e atravessamos a rua, obviamente ao som de latidos de contradição.
Na volta, invariavelmente, o estacionamento está fechado e a pitbull encontra-se fora do alvo do pequeno maltês. É que o rapaz que trabalha no local me vê passando e resolve dar uma ajudinha prendendo o grande cachorro branco atrás do aramado do portão.
Como eu me divirto ao passar em frende do lugar. O Frederico todo agitado, querendo latir para a pitbull, querendo entrar no estacionamento para fazer sei lá o quê com a cachorra: morder, brincar, abanar o rabo, acasalar? Mas, o latido dele não sai, pois o dela é muitas vezes mais potente do que o latido dele. E ela abana o rabo com tanta força que dá prá ouvir do outro lado da rua.
Em seguida, após muitas tentativas de conter o Fred, consigo tirá-lo dali. Ele sai feliz, com um sorriso na cara, típico de missão cumprida. É, com certeza rola um caso de amor platônico entre o Frederico e a pitbull do estacionamento. Ainda preciso descobrir o nome dela.

domingo, 15 de novembro de 2009

Sociedade machista e hipócrita



Antes que caia no esquecimento e que outros fatos mais relevantes tomem conta do nosso dia-a-dia, não posso deixar de mencionar minha perplexidade em relação ao acontecido com Geise, aluna da Uniban de Santo Bernardo do Campo (SP). O assunto foi amplamente comentado na imprensa durante mais de uma semana e só foi deixado de lado quando um apagão de energia elétrica parou 18 estados do Brasil e tomou conta dos noticiários.
A garota usava uma minissaia rosa, curtíssima e baratinha quando se dirigia para as aulas do curso de turismo no período da manhã. Logo na entrada da faculdade ela foi abordada por vários colegas que a chamavam por palavrões. A confusão tomou ares de linchamento quando cerca de 700 alunos, garotos e garotas de 20 anos (!), reuniram-se nos corredores para xingá-la. Geise só conseguiu sair de lá escoltada por policiais.... Se não fossem eles, os policiais, ela teria sido linchada, ou estuprada.
O que será que passa na cabeça desses jovens tão intolerantes ao modo de vestir de uma colega? Não vou nem perder tempo sobre a questão da falta de bom senso da garota que vestiu uma minissaia curtíssima e justíssima para assistir uma aula. O que me impressiona mesmo é a atitude dos colegas. Estamos em 2010, quase 50 anos após o surgimento do movimento feminista e várias décadas vivendo sob o regime de democracia no Brasil.... Não entendo tamanho retrocesso no comportamento dos jovens. Na década de 70, essa garota teria sido aplaudida em pé pelos colegas ao ir para uma aula de minissaia.
Muitos falam que ela se comportava de maneira vulgar... Oras, quantas e quantas garotas que saem nuas na revista Playboy são vulgares e nem por isso as revistas deixam de ser vendidas. Quantas e quantas mulheres desfilam praticamente nuas no Carnaval e ninguém está preocupado se são vulgares ou não. Quantas e quantas mulheres saem de minissaias nas capas de revistas femininas e masculinas desse País e essas revistas vendem como água.
Outros dizem que ela praticamente desfilou de minissaia e fez um percurso mais longo até chegar na sala de aula, como se um belo par de pernas fosse para ficar escondido... Meu Deus (!), agora vão proibir mulheres de minissaia de andarem por onde querem e fazerem o percurso que lhes convêm?
O acontecido só vem mostrar o quanto a sociedade brasileira é machista e hipócrita. Um País tropical, onde as mulheres praticamente andam peladas nas praias, deveria ser mais amadurecido no quesito tolerância. Os garotos e garotas da Uniban agiram daquela maneira pois Geise não vem de família rica e, por ser pobre, sentiram-se no direto de cortar as suas asinhas, ou melhor, perninhas. E se ela fosse negra? Eles teriam coragem de agir daquela maneira e serem tachados de racistas?
Uma sociedade erotizada, em que propagandas de cerveja e de carros dão sempre um jeito de colocar mulheres seminuas para aumentar as vendas de seus produtos, não aceita que uma garota esteja apenas confirmando o que ela mesma vê nos jornais e revistas? É incompreensível. É uma volta aos tempos das cavernas. Apoiar a atitude daqueles garotos e garotas é quase como aplaudir o fascismo e seu criador, Benito Mussolini.
Para mim, o incidente foi um grande estupro coletivo e imaginário. Todos ali sentiram-se ameaçados pelo par de pernas roliças e queriam rechaçá-la, apagar sua imagem para que ela os amedrontasse menos.
Mas, como toda ação tem uma reação, a moça ainda saiu ganhando - se é que dá para sair ganhando de uma situação dessas... Já recebeu convites para posar nas revistas Sexy e Playboy, está aparecendo em tudo que é programa de TV e ainda vai estrelar em um comercial de lingerie. É... a mídia não perde tempo e o acontecido está virando uma tragicomédia.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Furo MTV


Há algum tempo estou para escrever sobre o "Furo MTV", programa "jornalístico" da MTV. Com uma pitada de humor e situações nonsense, o formato lembra um pouco o "Saturday Night Live", da NBC americana - que também é transmitido na TV a cabo do Brasil - não lembro qual emissora.


Os apresentadores Dani Calabresa e Bento Ribeiro levam ao ar as notícias do dia de maneira muito engraçada, divertida e crítica. Os dois são muito bons na improvisação, rola bastante química entre eles e, melhor, um não quer roubar o espaço do outro.


O programa é exibido de segunda a sexta-feira, às 22h15, e reprisado às 14h45. Na sexta-feira, no mesmo horário, é exibido um compacto com os melhores momentos da semana, erros de gravação e bastidores.


No sábado, às 20h45, é exibida uma maratona com a reprise dos programas da semana e, no domingo, às 18h30, é exibido um programa reprisado da semana. Durante o seu único intervalo comercial, quase sempre é exibido um sketch entre Dani e Bento, com merchandising dos patrocinadores do programa.


O programa é muito bom mesmo!


Coldplay, no Brasil!

Sim, sim... esse título vem com ponto de exclamação. Em março a banda inglesa Coldplay fará apenas dois shows no Brasil - um no Rio de Janeiro, na apoteose, e outro aqui em Sampa, no Morumbi. Portanto, quem gosta da banda e é fã não pode demorar a comprar os ingressos que já estão a venda pelo site da Ticketmaster. Os shows acontecerão nos dias 28/02/2010, às 22h00, no Rio, e 02/03/2010, às 21h30, em São Paulo. Essa é a segunda vez que a banda vem ao Brasil. A primeira foi em 2003, durante uma turnê mundial.

O quarteto formado por Chris Martin, Jonny Buckland, Guy Berryman e Will Champion é mais um exemplo de banda que teve o início de sua formação em uma universidade. Martin e Buckland se conheceram em 1996, logo nos primeiros dias de aula na University College London (UCL). Logo depois Berryman se juntou à dupla e o trio formou o Pectoralz. No ano seguinte, o nome da banda mudou para Starfish. Em 1998, Will Champion ingressa na banda e, logo em seguida, o grupo tornou-se o Coldplay.

Em fevereiro deste ano, o álbum Viva la Vida or Death and All His Friends recebeu sete indicações para a 51º Edição Anual do Grammy Award nas categorias: Álbum do Ano (Viva la Vida or Death and All His Friends), Registro do Ano, Canção do Ano, Melhor Performance Vocal Pop por um Duo ou Grupo (para "Viva la Vida"), Melhor Canção de Rock, Melhor Performance de Rock por um Duo ou Grupo (para "Violet Hill") e Melhor Álbum de Rock (por Viva la Vida or Death and All His Friends). A banda conseguiu levar três prêmios nas categorias Canção do Ano para "Viva la Vida", Melhor Álbum de Rock para Viva la Vida or Death and All His Friends e Melhor Performance Vocal Pop por um Duo ou Grupo por "Viva la Vida".

Mas, nem tudo são flores para o Coldplay. Em dezembro de 2008 o guitarrista Joe Satriani abriu um processo de violação de direitos autorais contra a banda no Tribunal Federal de Los Angeles alegando que a banda copiou partes de seu instrumental "If I Could Fly", do álbum "Is There Love in Space?" na música "Viva la Vida". A banda também é acusada de plágio pelo músico Cat Stevens - que diz que o Coldplay copiou o arranjo de sua música "Foreigner Suit", também em "Viva la Vida".

Em recente entrevista ao Hampton Roads, o baterista Will Champion garantiu que a banda é inocente de todas as acusações e que não copiou canção alguma de ninguém. Ele declarou que acredita que algum tipo de transmissão musical entre artistas é inevitável: “Há elementos em nossa música que eu ouço em músicas de outras pessoas (...) Existem apenas oito notas em uma oitava e ninguém é proprietário delas. Há provavelmente 12 mil canções com a mesma sucessão de notas. Plágio, na minha opinião, é a intenção de roubar. O que certamente não fizemos e nem faremos."

Abaixo alguns vídeos da banda. Ah.... o Coldplay é demais!








quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cultura de convergência


A reportagem abaixo foi publicada na Revista Época em novembro do ano passado. Muito interessante e útil para quem trabalha com jornalismo, comunicação e entretenimento e, também, interessados em geral. O livro Cultura da Convergência, editora Aleph, chegou às livrarias do Brasil em outubro deste ano. Já folheei em uma livraria ali da estação Barra Funda e parece muito bom mesmo. O preço é meio salgado (R$ 69,00). Vou pedir como presente de amigo secreto...

Um novo Marshall McLuhan?


por Camila Hessel

O professor Henry Jenkins, do MIT, é freqüentemente comparado ao canadense que dedicou a vida ao estudo da comunicação e que cunhou a famosa expressão "o meio é a mensagem". Jenkins, um americano nascido em Atlanta, fundou o programa de estudos de mídia comparada do MIT, que se dedica à pesquisa dos fenômenos envolvidos no processo de convergência entre os novos meios de comunicação e os meios tradicionais. Seu livro sobre o tema – Cultura da Convergência – foi publicado no Brasil pela Editora Aleph em outubro. A seguir, confira a íntegra da entrevista concedida a Época NEGÓCIOS, em que Jenkins fala sobre o livro e também sobre os principais desafios para os conglomerados de comunicação, como os blogs, as redes sociais e a pirataria.

Época NEGÓCIOS – O senhor poderia explicar a idéia central do seu livro, Cultura da Convergência?
Henry Jenkins - Quando a maioria das pessoas da indústria de mídia fala de convergência, o discurso envereda pelo lado tecnológico: qual caixa preta irá controlar o fluxo de mídia no futuro? Então, eles falam em aparelhos que promovem a convergência, tal como o iPhone, capaz de executar muitas funções de mídia diferentes — como exibir filmes, reproduzir música, acessar a internet... Em certa medida, caminhamos em direção a uma maior integração entre as diversas mídias, se pensarmos somente em plataformas ou aparelhos. Mas nós também vemos que a mídia opera cada vez mais como um sistema cultural, em que cada história, imagem, som ou relacionamento é transmitido pelo maior número possível de canais de mídia. E a decisão sobre o uso de cada um desses canais é tomada tanto nos quartos dos adolescentes quanto nas salas de reunião dos conselhos de administração das grandes empresas do setor. Com isso, quero dizer que a convergência é promovida em igual medida pela integração das companhias de mídia, por seu desejo de explorar sinergias entre as diferentes divisões, pelo desejo dos consumidores de ter acesso ao conteúdo que querem, onde, quando e no formato que eles considerarem melhor e por sua determinação em adquirir esse conteúdo ilegalmente, caso ele não seja disponibilizado. Isso é a "cultura da convergência".

NEGÓCIOS – Quais são os principais desafios que essa cultura coloca para os conglomerados de comunicação?
Jenkins - Nesse cenário, as pessoas tomaram a mídia em suas próprias mãos e passaram a explorar elas mesmas novas ferramentas e plataformas que lhes permitam criar e veicular os seus próprios conteúdos. Por trás da cultura da convergência, está uma outra: a participativa. Vemos essa cultura participativa emergir em torno do YouTube, onde boa parte do conteúdo realmente interessante é gerado por amadores. Vemos essa cultura também no Second Life, onde as diferentes comunidades de consumidores estão construindo um mundo a partir de suas próprias imaginações. Num mundo de comunicações em rede como o nosso, a cultura participativa impacta a maneira como o conhecimento é produzido e distribuído. Hoje, como nos disse (o filósofo da comunicação) Pierre Levy, todo mundo sabe alguma coisa, ninguém sabe tudo e qualquer coisa que alguém saiba está disponível a qualquer hora para qualquer um que tiver interesse. Essa é a essência da inteligência coletiva, e podemos vê-la em exercício em lugares como a Wikipedia, onde as pessoas com as mais diversas especializações compartilham e examinam o conhecimento em conjunto para produzir um trabalho de referência maior e mais rico do que qualquer indivíduo seria capaz de imaginar sozinho. O maior desafio ainda está em curso: é negociar os termos dessa participação.

NEGÓCIOS – O senhor pode nos dar exemplos?
Jenkins – A publicidade nos blogs. Há tanto que não sabemos a respeito dessa questão! Enquanto os blogueiros se posicionarem como vozes independentes que oferecem uma alternativa aos veículos de mídia padrão, haverá um grande potencial de conflitos de interesse, uma vez que eles atraem os mesmos anunciantes que os veículos tradicionais. No mundo do jornalismo impresso, vimos que esse tipo de tensão rebaixou o papel dos jornais alternativos na sociedade americana. Poucos dos tablóides locais que surgiram em profusão nas décadas de 1960 e 1970 sobreviveram. Os que ainda existem são politicamente mudos e seu foco é quase sempre entretenimento ou a programação cultural local, como é o caso do Village Voice de Nova York, do Creative Loafing de Atlanta e do Boston Phoenix. Eu odiaria ver o mesmo acontecendo com os blogs. Por outro lado, não está claro por quanto tempo mais os blogs irão se sustentar à base de trabalho voluntário. É possível que os patrocinadores (e também os leitores, por que não?) queiram dar suporte financeiro aos blogueiros mais visionários e talentosos para que eles possam se dedicar integralmente a rastrear e a comentar histórias. O modelo de negócios que irá sustentar os blogs depois que a primeira onda de excitação e paixão começar a diminuir ainda não está claro. Produzir conteúdo uma semana atrás da outra é um trabalho duro. Talvez não precisemos que os blogueiros se transformem em profissionais em período integral, mas eles precisam ter um meio de integrar a produção de conteúdo em suas vidas profissionais e receber incentivos para prosseguir com o difícil trabalho de manter uma publicação viva. Eu acho que a busca por incentivos não-econômicos que promovam a participação contínua é uma questão-chave à medida que caminhamos para a nova fase da Web 2.0.

NEGÓCIOS – Como blogs e blogueiros se encaixam na cultura participativa?
Jenkins – A blogosfera se tornou um dos setores de maior visibilidade na cultura participativa, embora ainda exista uma tendência de analisá-la em contraposição ao jornalismo tradicional. Isso é um erro. Na realidade, os blogs dependem profundamente do trabalho que é realizado por jornalistas profissionais. O que os blogueiros fazem é tornar o trabalho dos jornalistas profissionais mais relevante para públicos com interesses específicos diferentes. Como regra geral, os blogs atuam junto a parcelas da população que se sentem mal atendidas pela mídia tradicional. O blogueiro procura por notícias que sejam interessantes para aquela determinada comunidade em uma série de veículos de mídia diferentes, além de produzir conteúdo próprio. Ao fazer isso, ajuda a expandir a circulação de diferentes conteúdos e os situa num contexto específico, mais próximo dos interesses de seus leitores. Um produtor de mídia tradicional seria muito sábio se passasse a olhar os blogs de perto, procurando entender como o veículo de mídia para o qual trabalha deixa de atender às necessidades e aos anseios de diferentes segmentos de público. A partir dos blogs este produtor poderia mapear os interesses de potenciais consumidores e conhecer melhor que opiniões eles têm a respeito dos programas e do conteúdo produzido hoje.

NEGÓCIOS – Como comparar blogs e redes sociais? O senhor acredita que um irá triunfar sobre o outro?
Jenkins – Eu vejo como um engano o debate a respeito de blogs e redes sociais. Os blogs constroem comunidades em trono de interesses compartilhados. As redes sociais tendem a surgir em torno de personalidades específicas e estabelecem uma ponte entre múltiplas comunidades de interesse. Uma rede social formada pelos meus amigos poderia incluir pessoas de minha comunidade geográfica, de minha vida pessoal, profissional e assim por diante. Eu sou o elo entre essas pessoas e elas alimentam uma ampla rede de comunidades de interesse. Os blogs tendem a nos dividir, enquanto as redes sociais tendem a nos unir.

NEGÓCIOS – O senhor entende que a cultura participativa é um dos motores por trás da pirataria?
Jenkins – Por um lado, os consumidores na cultura da convergência exigem a possibilidade de acessar um conteúdo em múltiplas plataformas. Ninguém quer ser obrigado a assistir um programa de televisão num horário específico, ficando refém da grade de programação da emissora. Há também espectadores que não querem ficar trancados do lado de fora de uma série que eles descobriram no meio da temporada. Eles querem acesso aos episódios anteriores em algum lugar que lhes permita acompanhar o programa no seu próprio ritmo, assistindo a todos os episódios de uma só vez ou em intervalos de tempo determinado, seja na internet ou no iPod. Ninguém quer esperar seis meses ou um ano para assistir a um programa estrangeiro cuja distribuição ainda não foi negociada por uma rede em seu país. Eu quero assisti-lo agora para poder participar da discussão internacional. E, como é possível ter acesso a esse programa de maneira ilegal, ninguém vai esperar que ele passe a ser oferecido legalmente. Há cada vez mais consumidores com interesses específicos em busca de determinados conteúdos que talvez nunca sejam oferecidos comercialmente em seu país — seja um anime japonês, uma comédia australiana ou uma telenovela latino-americana.

NEGÓCIOS – Que estratégias as empresas de mídia podem adotar para atender a essas novas necessidades?
Jenkins – Uma delas é oferecer sua programação online, num modelo de negócios similar ao do iTunes, em que os usuários de iPod adquirem músicas e vídeos. Uma série de TV pode ser comprada no site e assistida da maneira que o consumidor considerar melhor, talvez até mesmo de uma tacada só. Mas alguns produtores têm ido além e exploram as diversas plataformas de mídia não apenas para transmitir o conteúdo da TV, mas também para expandir a experiência de entretenimento. Séries como Heroes e Lost ampliaram sua presença na vida do espectador por meio de jogos interativos oferecidos na internet (os ARG – alternative reality games), mini-episódios montados especialmente para veiculação em telefones celulares (os mobisodes) ou mesmo de histórias em quadrinhos online. Os fãs de um determinado programa querem ir mais longe, eles esperam encontrar na internet muito mais do que vêem na televisão. Eles querem sentir que têm acesso a informações antes só disponíveis para os envolvidos na produção do programa, como detalhes de bastidores e histórias adicionais sobre os personagens e o universo em que vivem. Essas novas plataformas podem atrair novos consumidores, que gostem mais de jogos do que de séries de TV, por exemplo. Eles podem se interessar pelo programa e por outros conteúdos relacionados simplesmente porque gostaram do jogo colocado na internet.

NEGÓCIOS - Como a participação dos fãs influencia o processo de convergência de mídia?
Jenkins – Os fãs têm uma série de funções importantes para qualquer tipo de mídia. Eles ajudam a remodelar a cultura pop. No nível mais básico, eles são os consumidores mais dedicados, o que tem grande importância numa era de incerteza quanto à fidelidade do consumidor. Os fãs são os que possivelmente irão assistir a todos os episódios, procurar conteúdo adicional online, interagir mais freqüentemente com a marca e, fatalmente, transformar sua paixão por um programa em compras de produtos relacionados. Eles também são melhor informados e mais propensos a fazer propaganda boca a boca, angariando novos espectadores e ampliando a sua visibilidade. Mas, em muitos casos, os fãs mais ardorosos não passam de uma audiência adicional. Isso porque o seu perfil não se encaixa no do espectador tradicional: são mulheres fãs de série de ação e aventura, adultos que gostam de programas infantis ou mesmo homens que seguem novelas, para usar alguns exemplos. Em minhas pesquisas, levantei casos em que fãs foram fontes-chave de inovação e de criação de novas experiências. Eles pensavam em conteúdos que poderiam levar o programa a conquistar públicos mais amplos ou sugeriram novas interfaces entre os produtores e os consumidores. E, claro, na era das comunicações em rede, fãs que sejam alienados do processo de produção de conteúdo podem se tornar os seus críticos mais ácidos e efetivamente prejudicar um determinado programa, marcas afiliadas e até mesmo a emissora ou distribuidora. É por isso que eu digo que os fãs precisam ser cuidadosamente cortejados e ter seus desejos bem atendidos. Historicamente, produtores se prejudicaram muito mais ao declarar guerra aos fãs do que ao respeitar seus gostos e premiar sua criatividade e sua postura crítica.

NEGÓCIOS - Em seu artigo "Convergence?I Diverge" (Convergência? Eu Divirjo"), de 2001, o senhor diz que nenhum meio irá vencer a batalha da convergência. Desde então, muitas novas mídias e tecnologias se desenvolveram e popularizaram. Elas tiveram algum impacto na sua maneira de encarar o tema?
Jenkins – Não. Pensemos o ambiente de mídia como um ecossistema. Quando uma nova mídia aparece, ela certamente tem um impacto sobre as já existentes. Mas a história nos mostra que pouquíssimas foram as mídias que efetivamente morreram. Os mecanismos de transmissão vão e vêm, mas a mídia em sua definição mais ampla sobrevive. Tomemos como exemplo de mídia a gravação de som. Ela continua presente em nossa cultura independentemente de ser transmitida via cilindros de cera, discos de vinil, fitas cassete ou arquivos de MP3. Uma nova mídia pode empurrar uma antiga para o papel de coadjuvante, ou alterar seu modelo econômico ou mesmo alterar suas funções. O rádio passou a operar de uma nova maneira depois do surgimento da televisão, mas nós ainda contamos com ele para funções de comunicação extremamente importantes.

Na última década, nós assistimos ao crescimento dos aparelhos de comunicação portáteis. Eles representam um novo canal de transmissão para mídias que já existiam – como som, vídeo ou telecomunicações. Por um lado, esses aparelhos nos permitem interagir de novas maneiras com essas mídias e a integrá-las em novos contextos do nosso dia-a-dia. Surpreendentemente, poucas tecnologias portáteis exploram em profundidade as propriedades básicas dessa mídia emergente – como a mobilidade e a adequação aos diversos novos contextos em que o conteúdo será usufruído.
Historicamente, as primeiras aplicações de uma nova tecnologia ou plataforma se apóiam na continuidade de tecnologias antigas, transportando funções antigas para novos aparelhos ou explorando o componente de novidade dessa nova tecnologia. Mas, à medida que os usuários se familiarizam com a nova tecnologia, eles começam a realmente entender o seu potencial. E isso leva a uma nova transformação. Eu acho que esse processo está apenas começando a acontecer com os telefones celulares, por exemplo.

NEGÓCIOS - Algumas empresas investem em projetos para ampliar as situações de uso de seus aparelhos, como a Microsoft, que quer colocar o seu console de videogame Xbox "no centro da sala de TV", adaptando-o para ser um DVD player. Como essas estratégias afetam a evolução da convergência? Elas alimentam a crença de que um meio pode morrer?
Jenkins – Aqui é preciso diferenciar um meio de comunicação de um meio de transmissão. A guerra entre as plataformas de vídeo game é uma batalha de meios de transmissão. E nela é inevitável que existam ganhadores e perdedores. Mas, independente disso, nós iremos jogar vdeogame, assistir filmes e falar ao telefone. E eu estou convencido de que não iremos ver um único vencedor nessa batalha por que, como consumidores, nós queremos flexibilidade. Nós preferimos expandir nossas opções no lugar de restringi-las. Então, você pode preferir utilizar o seu console de vídeo game para ver filmes e jogar enquanto eu prefiro fazer essas coisas no meu iPhone. Nós vamos ver cada vez mais divergências quanto ao uso de uma determinada tecnologia, mas elas importarão pouco porque os sistemas de comunicação estarão completamente integrados e o conteúdo irá fluir livremente pelos mais diversos meios de transmissão.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Nem quando admiram dão o braço a torcer....


Li uma matéria hoje na Folha Online e vou transcrevê-la abaixo. No caso, é o cineasta britânico Guy Ritchie, 41, falando sobre a popstar Madonna e a separação do casal. Pouco são os homens que, mesmo admirando, fazem um elogio sincero às suas mulheres. Por quê será?

Guy Ritchie diz que ama Madonna, mas a considera uma "retardada" - da Efe, em Los Angeles

Ritchie não deixou dúvidas sobre a grande admiração por Madonna, com quem foi casado por oito anos, e afirmou que ela continuará sendo a rainha do pop, apesar das tentativas de aspirantes mais jovens. "Eu ainda a amo, mas ela é retardada", disse na entrevista.

"Quero deixar tudo bem entendido. Ela faz com que as coisas aconteçam. Põe a Madonna com qualquer jovem de 23 anos e ela trabalhará mais, dançará melhor e atuará melhor que qualquer uma", complementou o cineasta. Segundo a revista "People", toda a admiração ainda não é suficiente para que Ritchie inclua canções de sua ex-mulher no repertório de seu iPod.

O diretor contou na entrevista que sempre viu Madonna como sua esposa, não como uma celebridade. "Quando vinha a Londres, era uma londrina a mais. Ninguém a incomodava. Não importava quem era. Era minha mulher", comentou o diretor.
Ritchie também comentou sobre a escolha de Madonna como protagonista do filme "Swept Away", de 2002, fracasso de crítica e público. "O filme não é acessível a todo mundo, e há uma confusão porque a Madonna é a atriz", afirmou.