quarta-feira, 28 de julho de 2010

O Escritor Fantasma


Tenho tido sorte nas escolhas dos filmes que assisto no cinema. O mais recente dessa lista é "O Escritor Fantasma". Dirigido por Roman Polanski, o filme é uma adaptação do romance "The Ghost", de Robert Harris, em que um ghost writer - escritor que é pago para escrever artigos e livros sem levar o seu nome nos créditos, interpretado por Ewan McGregor ("Cova Rasa"), é contratado para finalizar as memórias do ex-primeiro ministro britânico Adam Lang, vivido por Pierce Brosnan (ex-James Bond).

No entanto, é preciso mencionar um "detalhe": na mesma missão, houve um ghost writer que morreu misteriosamente e seu corpo foi encontrado na praia. A partir dessa informação, percebemos que estamos diante de um filme de suspense e mistério enredados por fatos políticos atuais. O ex-primeiro ministro fica isolado em uma ilha, nos EUA, em uma espécie de bunker de luxo e, para escrever suas memórias, o ghost writer tem que se hospedar no local para captar como o político vive o seu dia a dia e, obviamente, fazer as perguntas que conduzirão o texto do livro.

Além do fato do escritor precedente ter morrido, o personagem de Ewan McGregor - que não tem seu nome citado em todo o filme - tem que lidar com o fato de que o político é acusado de crimes de guerra por ter entregue supeitos de terrorismo à CIA para serem torturados.

A trilha sonora e o tom cinza da fotografia levam o público a entrar no mistério e querer descobrir o que está por trás de todo aquele isolamento em que vive o ex-primeiro ministro e sua esposa, interpretada por Olivia Williams ("OSexto Sentido"). No entanto, nada é  o que parece ser e fica quase impossível saber quem é o "mocinho" e quem é o "bandido".

A todo instante o filme me fez lembrar "A Ilha do Medo" (dirigido por Scorsese, com Di Caprio no papel principal) - cada um em seu estilo -  pela fotografia, constante clima de tensão e paranóia de perseguição presentes nos dois filmes. Também não posso deixar de citar a participação de Kim Cattrall, como secretária do ex-primeiro ministro. A atriz encontrou o tom certo para o personagem e mostra que tem recursos além do personagem de Samantha Jones, de "Sex and City".

"O Escritor Fantasma" prende o púbico até o final. Apresenta um momento ou outro com alguma falação sobre política (o que entedia um pouco), mas a trilha sonora e a atuação dos personagens atraem a atenção, deixando a politicagem em segundo plano. Pode-se dizer que o isolamento do primeiro ministro remete ao isolamento do próprio diretor, que vive na Suiça, de onde finalizou o filme, que foi rodado na Alemanha e na Inglaterra.

Condenação

A finalização do filme foi feita pelo cineasta franco-polonês enquanto cumpria prisão domiciliar em seu chalé na Suiça. Em novembro de 2009, ele foi detido no aeroporto do País por pendências com o governo americano: em 1978, ele foi condenado por abusar sexualmente de uma garota de 13 anos. Na época, ele assumiu a culpa, mas fugiu e refugiou-se na França, onde morou até o ano passado.

 Ao viajar para a Suiça para receber um prêmio no festival de cinema dessa cidade, foi detido novamente e teve que aguardar em prisão domiciliar o processo de extradição para os EUA.  Polanski permaneceu preso até meados de julho deste ano, quando as autoridades da Suíça anunciaram que não o extraditariam para os Estados Unidos. Após ser libertado, a primeira aparição pública do cineasta foi no Montreux Jazz Festival.

Glórias e tragédias

A vida de Roman Polanski é pontuada por glórias e tragédias. Ao mesmo tempo que é um dos cineastas mais respeitados das últimas décadas, com filmes como "O Pianista" e "O Bebê de Rosemary" em sua filmografia, ele foi vítima de terríveis tragédias familiares.

Nascido em 1933, em Paris, seus pais mudaram-se para a Polônia um pouco antes de estourar a Segunda Guerra Mundial. Por serem de origem judaica, foram mandados para campos de concentração nazistas. Antes de ser pego, o pai de Polanski pagou outra família para cuidar do filho. Sua mãe morreu no campo de Auschwitz, mas Polanski conseguiu reencontrar o pai depois da guerra.

Durante a guerra, Polanski ia ao cinema para se esconder dos oficiais nazistas. Polanski não se  importava de que a maioria das produções era de origem alemã e assistia a tudo que podia. Quando seu pai o mandou para a escola técnica na Polônia, ele já havia escolhido sua carreira e logo abandonou o curso para ingressar na Escola de Cinema Lodz.

Em 1969, outra tragédia aconteceria em sua vida. A atriz Sharon Tate, então sua esposa e grávida de oito meses, foi brutalmente assassinada por Charles Manson e um grupo de seguidores da seita Família Manson que invadiram sua casa em Beverly Hills.


O cineasta tem, realmente, uma história digna de filme.


"Cada filme que faço representa um afastamento para mim. Eu levo tanto tempo para produzir um filme, que quando começo o próximo, já sou um homem diferente." (Roman Polanski)

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