quarta-feira, 21 de julho de 2010

Almas à Venda


Olha só, aqui vai uma dica interessante de cinema: "Almas à Venda". Se você não gosta de saber muito sobre os filmes antes de assisti-los, não leia o texto abaixo!

(SPOILER) Da diretora estreante Sophie Barthes, à primeira vista, o título pode dar a impressão de que trata-se de um filme de terror. Mas, não é. É uma comédia com um humor nonsense. O título original, "Could Souls", passa melhor a ideia do filme, que conta a história de um ator, Paul Giamatti, em conflito e desesperado, pois não consegue encontrar o tom para personagem Tio Vania, da peça teatral "Tio Vania", de Anton Tchekhov. 

Tio Vania é complexo, cheio de dúvidas, depressão e insegurança. Dominado pelo  personagem e sem conseguir êxito durante os ensaios, Paul Giamatti,  interpretado por Paul Giamatti - metalinguagem óbvia, mas que demorei a perceber, pois só no final lembrei do ator em "Sideways" ("Entre Umas e Outras") - procura uma clínica que extrai a alma de pessoas angustiadas. Isso mesmo! No filme, a alma é tratada como um órgão como outro qualquer e que pode ser retirada do corpo e colocada em um refrigerador. O dono da alma vai buscá-la quando estiver se sentindo melhor e pronto para recolocá-la, ou reutilizá-la.

O filme lembra muito "Adaptação" - com Nicolas Cage e Meryl Streep, pela metalinguagem e dificuldades de um roteirista em adaptar um livro -, e "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", com Jim Carrey e Kate Winslate, pela vontade de extirpar memórias ruins e o arrependimento de tê-las suprimido. Apesar do humor, o filme não é leve, pois coloca a todo instante as angustias da sociedade atual, em que acredita-se que tudo está à venda, desde o amor e a liberdade até a tranquiliade aos finais de semana. Aliás, o fato do personagem principal atuar em uma peça como Tio Vania (pesada e complexa) já dá sinais de que não estamos diante de uma comédia romântica açucarada.

Mas, voltando ao filme. Apesar de não acreditar que a retirada da alma vá resolver o seu problema, Paul vai adiante e passa pelo experimento. Obviamente, tudo em sua vida vira de pernas para o ar. Sem alma, o personagem começa a se sentir entediado e passa a ter comportamentos muito estranhos. Sua atuação nos ensaios passa a ser patética e ele inventa um Tio Vania completamente alienado. Imagine: você querer dar um tom cômico para uma peça que é totalmente dramática?

Então, ele descobre que pode experimentar outra alma (!) e opta por uma que é supostamente a de um poeta russo, na tentativa de encontrar o tom para o seu personagem. Tudo está mais ou menos sob controle até Paul descobrir que sua alma foi parar na Rússia. A confusão está feita.

Vale a pena conferir, dar boas risadas com as trapalhadas desse ator em conflito e refletir sobre questões relevantes. O filme foi destaque de importantes festivais independentes nos EUA, como o Sundance.

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