segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O fundo do mar

Que vontade é essa que me corroi por dentro?
Uma saudade de não sei o quê que ainda não conheço.
Uma lembrança vaga de infância à beira mar com primos a andar pela areia fofa.
As ondas altas que metiam medo e a companhia de irmãos e tios que me davam mãos e segurança para que fosse cada vez mais fundo.

Que lembrança é essa que me acompanha algumas manhãs?
Que de tão vaga chega a se esconder em algum lugar da memória que não consigo decifrar.
Que se confunde com a luz do sol a entrar pela greta da janela
E faz contornos na sombra do quarto que lembram algum dia que ficou lá atrás.

Que saudade é essa que não tem porque e nem hora marcada para sentir?
De um amor ainda não vivido mas com ares de vários amores já experenciados.
De alguém que não tem rosto definido, mas vários rostos e personalidades indefinidas.
Um cheiro forte de perfume amadeirado misturado às flores da saia comprida.

Que vontade é essa que me corroi as entranhas?
De viver uma vida que não é a minha, mas que poderia ser.
Com versos escritos aleatoriamente nas páginas de um livro qualquer.
Que rimam ao sabor do vento e fazem chorar.

As altas ondas confundem-se com a luz que entra pela janela
E faz contornos na sombra do quarto.
Vejo no cantinho da memória o rosto de alguém que não conheço.
Mas tem os traços dos rostos de irmãos e primos que me seguravam pelas mãos.

E, o fundo do mar está cada vez mais fundo.

Juliana Parlato

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