terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pérolas aos porcos

Há algum tempo penso nessa questão: doar-se demais a quem não merece. Não, não estou falando de relacionamentos amorosos. Estou me referindo a todos os tipos de relacionamento em que somos muito legais, simpáticos e presentes e outro não devolve da mesma maneira.

Parece que tenho uma certa tendência em fazer amizades com pessoas assim, que não dão muito valor ao que ofereço. Não sou um capacho e não estou dizendo que estendo tapetes vermelhos para aqueles que gosto. Mas, talvez esteja me expondo demais nas amizades, falando demais o que penso e me dispondo muito a ouvir. E, não sinto que a recíproca seja a mesma.

Não estou me referindo a esta ou aquela pessoa. Mas, sinto que é um lance que acontece com alguma frequência. Quando era ainda menina, minha mãe sempre dizia que eu deveria ser mais esperta em relação às amizades. Houve uma vez que uma amiguinha do bairro foi lá em casa e brincamos com minhas bonecas, entre elas uma bonequinha que era meio índia - coisa rara em uma época que só Barbies e Susies faziam sucesso entre as meninas. Essa boneca tinha cabelo muito comprido e minha mãe tinha o maior xodó pelo brinquedo, pois um amigo do meu pai a tinha comprado no exterior para me dar.

Essa “amiguinha” já havia pedido a boneca para mim algumas vezes. Lógico que não dei a boneca para ela, mas deixava ela brincar quando ia lá em casa. Olhem o que a menina inventou um dia: uma sessão de cabeleireiro para as bonecas e claro uma tesourada no cabelo comprido da indiazinha (!). Eu tinha uns oito anos, se não me engano, e fiquei meio chateada na hora, mas a menina era esperta e explicou que aquele corte estava na moda. “Tudo bem”, pensei. “Minha amiga sabe das coisas.” Quando minha mãe viu o estrago que a dita cuja fez na boneca ficou tão chateada que disse: “você é uma boba e suas amigas te fazem de pastel!”

O que quero dizer é que, tirando o corte de cabelo ridículo na boneca, isso ainda acontece comigo. Muitas vezes, ouço os outros, ofereço um ombro amigo, mando currículos para aqueles que estão procurando emprego, conselhos para aquelas que estão chateadas com o namorado, conto piadas para levantar o humor de quem perdeu um ente querido, relevo um mal-entendido que ficou no passado e retorno à amizade, e uma infinidade de outras ações que se eu ficar contando vão achar que estou contando vantagens ou que quero ser a Madre Teresa de Calcutá. 

Também não estou querendo me passar por vítima. Entendam isso como um desabafo. Puxa, amigos são amigos e parto do princípio que posso contar com essa pessoa se estiver chateada, certo? Nem sempre. Em uma amizade está implícita lealdade e cumplicidade, o que significa que inveja, competição e coisas do gênero ficam de fora, certo? Nem sempre em se tratando desses casos. Duas pessoas que se dizem amigas são tolerantes e tudo o mais, mas quando você não gosta de determinadas atitudes da pessoa você pode falar abertamente, certo? Sim, se a amizade for verdadeira.

Joguinhos, competição, fingir que é cúmplice para sumir ao primeiro vento desfavorável... Isso não está previsto em uma amizade verdadeira. Se essas coisas estiverem presentes em um relacionamento, isso pode ser tudo, menos amizade.  É claro que tenho bons amigos, amigos de verdade e leais, graças a Deus. Estou me referindo àquelas pessoas que se mostram amigas por interesses excusos, ou sei lá o quê, e depois somem, mudam o comportamento, passam a agir com certa arrogância ou ar de superioridade. Mas, também, não vou ficar me alongando porque pessoas assim não merecem nem que tivesse escrito uma linha.

Na verdade, esse texto é um exercício de aprendizado. Um aprendizado para eu realmente ficar ligada e cair fora quando perceber que estou lidando com gente assim. 
 Vou tomar meu chá de “simancol” e serei mais “esperta” daqui para frente. São muitos anos desde o incidente com a boneca que teve o cabelo cortado estilo moicano e eu já deveria ter aprendido a lição.

2 comentários:

Alessandra disse...

Jú, eu concordo com o que você diz....mas também acho que tem coisas que nascem com a gente, faz parte da sua essência ser assim e por mais que você tente não consiguirá mudar! Já passei por diversos motivos e pensei como você, mas me sinto bem ao dar meu ombro para quem necessita. Isso faz bem para gente!!!

Juliana Parlato disse...

É... eu sei Alê. Estava meio mal-humorada qdo escrevi esse texto. Foi um desabafo. Mas, eu sei que vou continuar fazendo o mesmo de sempre. O lance é eu não me chatear qdo precisar de alguém e não encontrar ninguém disponível para escutar. O x da questão é este: não me chatear. Afinal, se eu consigo apoiar alguém que não está bem, posso perfeitamente apoiar a mim mesma! rsrsrs