quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A cultura da malandragem - ou o porquê da população votar em Tiriricas e Netinhos


Os dias de rodízio do meu carro são uma verdadeira aula sobre a cultura da malandragem do povo brasileiro. Nesses dias, após o percurso feito no fretado da empresa, pego o metrô e faço algumas baldeações até chegar ao meu destino. Esse trecho que ando de metrô vale como uma lembrança do mundo em que vivo.

A realidade verdadeira não é aquela do som ligado e do ar condicionado dentro do carro. A realidade é essa dos dias de rodízio. Como se a realidade batesse na minha cara toda vez que pego o transporte público.

O metrô em São Paulo, apesar de ser um dos melhores meios de transporte do Brasil, ainda deve muito ao cidadão. As aglomerações nas plataformas de embarque e desembarque são monstruosas mesmo após o horário de pico e a falta de educação do povo é absurda.


Os homens entram em disparada dentro dos vagões e não se importam em ceder o lugar a um idoso, mulher grávida ou pessoa com deficiência física. Os homens, e estou me referindo a rapazes, jovens saudáveis, querem sentar e sentam. Ponto final!

Mas, o pior nem é isso. Pior são as conversas que ouço nesses dias. Meu Deus! Como o povo brasileiro é desinformado. Essa semana tive o desprazer de ouvir uma senhora dizendo que o Netinho, o tal candidato a uma das vagas ao senado de São Paulo, tem mesmo que ser eleito. Ela dizia: “Ah, dizem que ele bate em mulher. Eu apanhava dele de manhã, de tarde e noite. Tem tanta mulher aí que apanha de homi feio e pobre. Pelo menos, ele é bonito.” (sic).

A filha dessa senhora começou a falar do Tiririca. Nesse momento, eu já estava querendo atirar aquelas duas do vagão. Olhem o discurso: “O Tiririca tem mesmo que ganhar. Ele não está prometendo nada e vai ganhar. É isso mesmo. Na simplicidade ele vai chegar lá.”

Em seguida, a conversa partiu para uma tal conhecida delas que, como elas, era da ZL (Zona Leste) e casou com um senhor bonito e rico. Pela história, a tal aplicou o golpe da barriga e, agora, tem um caso com um faxineiro que “dá no couro”.

A conversa, do início ao fim, refletiu bem a tal cultura da malandragem que ainda impera no País. Em nenhum momento percebi um fio de coerência no que elas falavam. E, pior ainda, outros passageiros entraram no papo e concordavam com as duas. E, elas enalteciam o fato de serem do povão. Enfim, o diálogo era recheado de chavões e clichês, sem um item que justificasse de maneira racional o que elas diziam.

Nessa breve viagem, pude perceber o porquê dos altos índices de intenção de voto que os candidatos citados estão apresentando nas pesquisas. O povo não se informa sobre os candidatos, não sabe o que eles fizeram em cargos anteriores, não acompanha a vida política do País e acha que votar em um Tiririca é uma maneira de colocar alguém para representá-lo no Poder.

Puxador de votos

O que a maioria dos eleitores do Tiririca não sabe é que o PR - Partido da República, que nasceu da fusão do PL com o Prona – está usando Tiririca como puxador de votos para levar outros candidatos da mesma legenda para a Câmara dos Deputados. O investimento do partido no candidato foi enorme, sendo que dos R$ 516 mil, R$ 350 mil veio do fundo do partidário e R$ 166 mil de “outros recursos”.

E, no entanto, Tiririca mal sabe ler e escrever.... A denúncia do Ministério Público de que ele é analfabeto foi rejeitada pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) já que a legislação eleitoral não exige que os candidatos possuam mediano ou elevado grau de instrução, mas apenas tenham noções rudimentares da linguagem pátria.

Entendo que isso é previsto na legislação para evitar elitismo no Poder, mas daí aceitar que um semi-analfabeto seja candidato já é demais. Além do mais, a maioria das pessoas que votará nele nem sabe por qual partido ele está se candidatando, que projeto de governo ele apresentou e, menos ainda, qual bandeira o PR levanta.

Agora, vamos ao Netinho de Paula. Candidato ao Senado pelo PC do B, ele divide a liderança na disputa com a também candidata Marta Suplicy (PT). Conhecido por espancar a ex-companheira Sandra Mendes, em 2005, ele costuma chamar esse episódio de “pontual”, como que tentando abrandar a agressão. Se é que isso é possível.

No entanto, em 2002, ele já havia sido processado pelo Ministério Púbico sob acusação de ter dado uma chave de braço em uma supervisora de uma extinta companhia aérea. Como punição, ele foi obrigado a pagar 100 latas de leite em pó. No episódio com a ex-companheira, ele teve que desembolsar uma quantia mais considerável, que não foi publicada no Diário Oficial.

Tudo bem que o “Fenômeno Tiririca” deve-se, em parte, à frustração dos eleitores com os políticos e suas propostas nem sempre cumpridas. Mas, o que um Tiririca tem a acrescentar ao cenário político atual?

Pela biografia postada em seu site oficial, Tiririca é uma pessoa esforçada. Ele começou a trabalhar aos 8 anos de idade vendendo doces e, em seguida, iniciou a trajetória artística como palhaço, equilibrista, malabarista e mago. Mas, o que ele vai oferecer à população?

De seu programa político pouco se sabe além da ideia de luta pela aprovação de projetos que beneficiem a população do Nordeste e defesa dos trabalhadores da construção dos abusos de seus empregadores. Também fala vagamente em lutar pela ampliação de programas sociais e criar comissões parlamentares para a defesa dos direitos humanos e educação.

Sem qualquer tipo de experiência política, em uma entrevista concedida a uma emissora de TV, ele disse que tinha uma boa equipe o auxiliando “por trás”... É, infelizmente, pior do que está dá para ficar sim.

Um comentário:

Juliana Parlato disse...

Alguns leitores do blog não assinam o gmail e não têm blog. Então, posto um comentário que recebi pelo email:

Mensagem original
De: Marilena Angeli
Para: Juliana Parlato
Assunto: Re: A cultura da malandragem - ou o porquê da população votar em Tiriricas e Netinhos
Enviada: 02/10/2010 19:45

É.... tinha de ser descendente de Italiana mesmo....
Tá ótimo seu artigo. Gostei muito !
Meu comentário é que o povo tem o governo que merece.
Povo safado, político safado.