sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A Origem


Ao final de "A Origem" pensei: "não será fácil escrever sobre esse filme". Primeiro, porque o filme fala sobre sonhos, inconsciente, subconsciente e esse tema, por si só, não é simples. Segundo, porque o filme pode ser abordado sob o prisma da semiótica, que  é mais complexo ainda. Terceiro, porque o impacto que a história causou em mim foi tão grande que achei que seria impossível colocar isso no papel.

No entanto, ao fim de uma semana de assimilação, já consigo escrever algo sobre o filme. "A Origem" fala sobre simulacros, sobre o que é verdade e o que é mentira, o que é sonho e o que é realidade. Como seria nossa vida se nossas escolhas fossem diferentes? O que eu vejo é real ou fruto da minha imaginação? A nossa realidade é construída a todo instante a partir de ideias e o diretor e roteirista Christopher Nolan lança uma ideia e faz o público acreditar nela. O trailer do filme já dá dicas disso quando anuncia que a cena do crime é a própria mente do telespectador. Hum.... bem interessante, não é?

Em "Inception", nome original do filme, Leonadro DiCaprio é Cobb, um cara que se especializou em roubar informações importantes de pessoas importantes. Ele ganha dinheiro fazendo isso e tem uma equipe que o ajuda. O roubo é possível pois o grupo tem uma máquina - cujo funcionamento não é explicado, mas que entendemos perfeitamente como funciona - que possibilita que a equipe entre na mente de seus alvos enquanto eles estão dormindo e roube a informação. Mas, dessa vez, Cobb é contratado por Saito (Ken Watanabe) para uma missão mais complexa: inserir uma ideia na mente do filho de um magnata (Cillian Murphy) que está prestes a receber uma grande herança do pai que está morrendo. 

A grande sacada do filme é mostrar que o grupo pode criar sonhos dentro de sonhos. A responsável pela construção dos sonhos é a arquiteta Ariadne, interpretada por Ellen Page, que é uma das melhores alunas de arquitetura em uma faculdade em Paris. A equipe conta também com Arthur (Joseph Gordon-Levitt), parceiro e amigo de Cobb. Ele é o personagem encarregado de fazer as coisas acontecerem nos sonhos. E, por fim, o grupo conta com o falsificador Eames (Tom Hrady), que durante os sonhos assume formas de outras pessoas, confundindo o subconsciente de seus alvos; e Yusuf (Dileep Rao), químico que cria uma droga sedativa muito potente que possibilitará ao grupo ir em níveis mais profundos do subconsciente do filho do magnata e também criar os sonhos dentro de sonhos.

No entanto, não será nada fácil para o grupo alcançar seus objetivos, pois Cobb tem um passado obscuro que vem à tona na figura de Mal, sua esposa falecida interpretada por Marion Cottilard, que está perfeita no papel. Ela aparece nos sonhos sem ser convidada pois, apesar de todo o projeto de implantação da ideia ser milimetricamente planejado pelo grupo, eles têm que lidar com imprevistos que nada mais são do que as projeções do subconsciente de quem está sonhando. 

A trilha sonora assinada por Hans Zimmer é maravilhosa e importantíssima para o desenrolar da história. Afinal, o grupo sai dos sonhos por meio da música. E, a música escolhida para o "kick" - indicador de que o tempo do sonho acabou e que está na hora de voltar para a realidade - é "Non, Je ne Regrette Rien", de Edith Piaf. Aliás, referência ao trabalho e Cottilard em "Piaf - Um Hino ao Amor".

Por esse breve resumo já deu para perceber que a história não é simples. E, não é mesmo. "A Origem" não é para mentes preguiçosas. A todo instante nos perguntamos: "eles estão dentro de um sonho ou estão na realidade?". "A Origem" é para ser visto com atenção, sem desgrudar os olhos da tela um minuto. O que não é difícil já que os efeitos especiais são impressionantes.

Não vou me alongar, pois "A Origem" é cheio de referências e subtextos impossíveis de serem apreendidos em apenas uma sessão. Mas, posso garantir: o filme é excelente. Saí do cinema com a impressão de que a realidade na verdade é um sonho, ou melhor, de que a realidade pode ser um sonho. Isso, para dizer o mínimo. Com certeza, é um divisor de águas na história do cinema, assim como "Matrix" foi em 1999.









Um comentário:

Marcia Ortiz disse...

O universo de nós arquitetos é mostrado tão claramente ,nossa viagem se manifesta a cada criação.Na vida real o sonho dentro de outro sonho ,são as partículas do nosso subconsciente que escapam sem decifrarmos.E aprendemos que nem sempre vamos devendar tudo,saber conviver com o obscuro é uma arte!bjs marcia ortiz