terça-feira, 11 de agosto de 2009

À Deriva


Ainda não sei bem o que escrever sobre “À Deriva”, do diretor Heitor Dhalia, mesmo de “O Cheiro do Ralo” e “Nina”. Sai da sessão com a impressão de que não havia gostado muito do filme. A fotografia é linda e a ambientação anos 80, perfeita. Mas, algo ressoou em mim que me fez achar um tanto longo e enfadonho.
No dia seguinte, no entanto, acordei gostando do filme. Talvez, no dia em que assisti, eu tenha sido influenciada por uma crítica que metia o pau no roteiro, mas o que importa é que hoje acordei querendo rever “À Deriva”. Como se a história do filme tivesse crescido dentro de mim e, depois de algum tempo, passei a entendê-lo.
Filmado na paradisíaca Búzios, “À Deriva” mostra o desmoronamento de um casamento aos olhos da filha mais velha do casal, Filipa (interpretada pela estreante Laura Neiva), em plena adolescência e alvo constante das investidas dos garotos e rapazes da turma.
Apesar da participação de Débora Bloch, como a mãe da adolescente, e do ator francês Vincent Cassel, como pai, é Laura Neiva quem rouba quase todas as cenas. Ela, aliás, foi descoberta em um perfil do Orkut. Dá para acreditar nisso? Além de Laura, o diretor optou por adolescentes não-profissionais para interpretarem os irmãos mais novos de Filipa e a turma de adolescentes. O resultado ficou muito bom, pois eles passam tanta verdade na atuação que chega a ser um tapa na cara do telespectador.
Enquanto Filipa percebe o interesse do pai por outras mulheres e o quase alcoolismo da mãe, ela vive dramas relacionados à sexualidade e começa a aprender que o mundo dos adultos não é tão linear quanto parece e que as coisas não são tão simples. O filme permite um mergulho no universo humano e suas complexidades. A escassez de diálogos muito explicativos permite que entremos na dinâmica do entendimento da realidade pela adolescente.
Com o decorrer da história, percebemos que tudo ali é muito mais complexo do que imaginávamos. Filipa também vai perceber isso, mas sempre fiel ao jeito introspectivo e desajeitado da personagem. Aliás, vamos descobrindo a verdade por meio dos olhos dela. Percebemos em Filipa as dificuldades do amadurecimento, da passagem para outra fase da vida.
O relacionamento entre Filipa e o pai é muito próximo. Eles são muito amigos e têm uma grande cumplicidade. Dá até para imaginar algo meio incestuoso ali, mas se houver, é muito sutil. Portanto, quando ela percebe que o pai trai a mãe a idéia de perfeição que ela tinha do pai vai abaixo e a menina fica, literalmente, sem chão.
A ambientação anos 80 é um capítulo à parte. Muitas vezes, me senti fazendo parte do filme tão bem retratado ficou esse período na tela. Tudo foi extremamente detalhado para passar o clima da época. Desde os shorts usados pelas meninas e as xícaras de cerâmica, até as câmeras polaroids e as mobiletes. Em nenhum momento a informação de que o filme se passa nos anos 80 e que a casa de veraneio do casal fica em Buzios é explicitada nas falas das personagens. De uma certa forma, esse recurso passa uma idéia de história atemporal e universal. O que deixou o filme muito mais interessante. Fiquei um tempão tentando descobrir onde o filme foi filmado até que alguém comentou que era Búzios. Realmente, deu vontade de conhecer o balneário carioca.

Um comentário:

Unknown disse...

O filme tambem foi gravado em Arraial do Cabo, mais precisamente no Pontal do Atalaia.