domingo, 25 de janeiro de 2009

"O Jogo do Anjo" - o veneno da vaidade dos escritores

Acabei de ler "O Jogo do Anjo" e ainda estou sob o efeito da magia da escrita do catalão Carlos Ruiz Zafón. Após várias paradas na leitura - por falta de tempo e também um pouquinho de preguiça - retomei a leitura, reli alguns capítulos para lembrar as características de alguns personagens, e consegui terminar a saga do jornalista David Martín, narrador e protagonista do romance, que aliás é muito bom.

Martín é um jovem escritor que vive em Barcelona na década de 20 e, aos 28 anos, desiludido no amor e na vida profissional, e com uma grave doença, aceita um convite irrecusável de um editor desconhecido que lhe oferece uma enorme soma em dinheiro. Esse trato com o editor estrangeiro muda sua vida e, misteriosamente, devolve-lhe a saúde. A partir daí, Zafón utiliza de vários recursos e técnicas narrativas, desde o descritivo até o jornalístico, para contar como o protagonista irá desvendar todo o segredo do editor e da misteriosa encomenda.

Acredito que todos que têm alguma experiência com a escrita e já tiveram seu nome publicado em algum texto sabem do que o personagem David Martín diz logo no início do livro: "Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita algumas moedas ou um elogio em troca de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente o doce veneno da vaidade no sangue e começa a acreditar que, se conseguir disfarçar sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de garantir um teto sobre sua cabeça, um prato quente no final do dia e aquilo que mais deseja: seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente vai viver mais do que ele. Um escritor está condenado a recordar esse momento porque, a partir daí, ele está perdido e sua alma já tem um preço."

"O Jogo do Anjo" traz alguns dos personagens de "A Sombra do Vento", um dos melhores livros que li até hoje - ao lado de "Budapeste", de Chico Buarque, e "O Homem Duplicado", de Saramago. No entanto, o livro não é uma continuação de sua obra anterior e pode ser lido antes daquele. Como o primeiro livro "adulto" do autor, "O Jogo do Anjo" é uma histórias sobre escritores, livros, leitores e, também, o lado obscuro de todos nós.

Segundo o autor, a idéia é construir uma tetralogia em que as histórias de todos os volumes irão situar-se em algum período entre a revolução Industrial e o final da Segunda Guerra Mundial. "A Sombra do Vento" abrange a primeira metade do século XX e um pouco mais. "O Jogo do Anjo" faz referência a acontecimentos que vão desde 1904 e 1945. Nenhuma das obras será continuação uma da outra, podendo ser lidas de maneira independente.

No "Jogo do Anjo", o autor leva os leitores até o Cemitério dos Livros Esquecidos, a Livraria Sempere e Filhos e para a vida de alguns personagens do livro anterior. Diferente do anterior, este tem uma grande pitada de magia, espiritismo, espiritualidade e muitas mortes.

Maior lançamento do mercado editorial espanhol de 2008, "O Jogo do Anjo" chegou às livrarias do país com uma tiragem recorde de mais de um milhão de exemplares. No Brasil, primeiro país a publicar uma tradução do romance, o livro sai pelo selo Suma de Letras com tiragem inicial de 80 mil exemplares. Já lançado na Argentina, Chile, Colômbia e México, a obra figura no topo das listas de livros mais vendidos desses países.

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