sexta-feira, 28 de agosto de 2009

21 Gramas


Como lidar com a morte? Como superar a morte de uma pessoa muito querida? O filme "21 Gramas" fala exatamente sobre isso e de como as pessoas superam um acontecimento trágico. O filme mostra que cada um supera a morte como pode, de acordo com seus recursos internos - seja qual for a maneira como ela acontece, afinal a morte, mesmo que indolor, deixa um rastro de tristeza por onde passa. Uns a superam de maneira mais frágil, outros aparentemente mais fortes. Mas, a dor está ali, estampada na tela o tempo todo, estampada nos rostos dos personagens.
Assisti o filme na época do seu lançamento, em 2003, e recentemente, zapeando os canais, calhou que estava passando de novo. É um filme muito intenso, em que os personagens são carregados de emoção. Impossível assistir ao filme e não pensar na vida, em como se está vivendo, em como superamos as dificuldades do nosso dia-a-dia - maiores ou menores, mas que exigem superação.
"21 Gramas" conta a história de três famílias cujas trajetórias se encontram de maneira trágica. O professor universitário Paul (Sean Penn) é um cardíaco que vive com a mulher à espera de um transplante de coração. Christina (Naomi Watts) é uma dona de casa, ex-drogada, que vive de maneira pacata, ao lado do marido e duas filhas. Jack (Benício Del Toro) é um ex-alcóolatra, que foi preso algumas vezes, e que descobriu na religião a sua redenção e um meio onde encontrou forças para criar suas filhas e manter a esposa. Após um trágico acidente, os seus destinos serão interligados de maneira dramática. É complicado falar mais sobre o filme sem contar muito. Portanto, páro por aqui.
Além do roteiro muito bem amarrado, a maneira fragmentada como o filme é montado, em que enredos paralelos vão se juntando e se alternando é muito interessante. A cronologia dos acontecimentos é apresentada de forma embaralhada, aparentemente desconexa, o que prende a atenção do telespectador. O filme vai e volta no tempo várias vezes e mostra situações com um núcleo de personagens que acontecem paralelamente a outras situações com outros núcleos. Com o decorrer da história, vamos entendendo e montando o quebra-cabeça.
"21 gramas" é um filme muito denso, em que os personagens poderiam ser encontrados por aí nas ruas, no ambiente de trabalho e em nossas famílias, tamanha a proximidade da história com a vida real.
A atuação de Sean Penn é memorável. Depois de atuar em "Sobre Meninos e Lobos" - em que foi indicado como melhor ator - mas não levou a estatueta, em "21 Gramas" Sean Penn interpreta um personagem extremamente difícil. Ele seria o único que poderia, de certa forma, lucrar com o acidente, mas ele procura a dor, ele quer entender a dor da perda e ele quer vingá-la. Naomi Watts, descoberta por David Lynch em "A Cidade dos Sonhos" - outro filme que adorei e assisti diversas vezes, está mais madura em "21 Gramas". A maneira como ela expressa os sentimentos é impressionante. Só assistindo para entender.
E, Benicio Del Toro... Em "Snatch - Porcos e Diamantes", ele atua ao lado de Brad Pitt e proporciona muitos momentos cômicos; em "Sin City - A Cidade do Pecado", adaptação cinematográfica das histórias em quadrinhos de Frank Miller, sua atuação rendeu o prêmio de melhor ator em Cannes. Nesses dois, os personagens de Benicio são mais bem definidos, mais lineares. Em "21 Gramas", o ator faz um personagem mais dúbio, mas capta tão bem toda esta ambiguidade que não conseguimos ter raiva ou pena...
Benicio e Naomi foram indicados ao Oscar por suas atuações em "21 Gramas". Naomi como melhor atriz e Benicio como ator co-adjuvante. Mas, como a Academia sempre deixa a desejar, nenhum deles levou o prêmio. No entanto, o que importa é que esse filme é um dos melhores que assisti. Intenso e pertubador, "21 Gramas" realmente faz a gente pensar na vida e em como estamos aproveitando cada minuto dessa dádiva que é viver.

"Quantas vidas nós vivemos? Quantas vezes nós morremos? Acredita-se que perdemos 21 gramas no exato momento em que morremos, cada um de nós. Quanto pesam 21 gramas? Quando perdemos 21 gramas? Quanto de nós se perde? Quanto de nós é ganho? Quanto pesa 21 gramas? O peso de uma moeda de 5 centavos, de um beija-flor, de uma barra de chocolate? 21 gramas é o peso que seu corpo perde após a morte. 21 gramas. Será o peso da vida? 21 gramas. Será o peso da alma? Uma coisa é certa: a morte chega uma hora, você querendo ou não, mais cedo ou mais tarde." (frase do personagem de Paulo - Sean Penn)
Vale a pena assistir!


Curiosidades sobre o filme: * 21 gramas é o peso que o corpo perde no exato momento em que morremos. * O filme custou 21 milhões. * 21 Gramas é o 2º longa-metragem dirigido por Alejandro González-Iñárritu. O anterior foi Amores Brutos (2000).

Premiações:* Recebeu 2 indicações ao Oscar, nas categorias: Melhor Atriz (Naomi Watts) e Melhor Ator Coadjuvante (Benicio Del Toro).* Recebeu 5 indicações ao BAFTA, nas seguintes categorias: Melhor Ator (Sean Penn), Melhor Atriz (Naomi Watts), Melhor Ator Coadjuvante (Benicio Del Toro), Melhor Edição e Melhor Roteiro Original.* Recebeu uma indicação ao César de Melhor Filme Estrangeiro.* Ganhou o Volpi Cup de Melhor Ator (Sean Penn), o Prêmio Wella (Naomi Watts) e os prêmios de Melhor Ator - Voto Popular (Benicio Del Toro) e Melhor Atriz Voto Popular (Naomi Watts), no Festival de Veneza.* Recebeu uma indicação ao Grande Prêmio Cinema Brasil de Melhor Filme Estrangeiro.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A dura realidade das ruas

Às terças-feiras sou obrigada a deixar o carro na garagem, pois é meu rodízio. Nesses dias, portanto, tenho um contato maior com a realidade das ruas, já que o carro é um meio de transporte que nos protege de um contato mais próximo com desconhecidos.
Ontem, ao voltar para casa, saindo do metrô, um menino de rua me chamou: "Tia!". Eu já ia metendo a mão no bolso para dar um dinheiro para ele. Mas, ele disse: "Não quero dinheiro, tia. Quero te pedir outra coisa". "O quê?", perguntei. "Queria que você comprasse um pacote de fraldas para meu irmãozinho... É número G."
Fiquei olhando para ele e disse que "tudo bem". Então, ele perguntou se eu queria a moeda de R$ 0,10 que ele tinha no meio dos dedos imundos. Disse que não precisava.
A imagem daquele menino, todo sujo, com as roupas rasgadas, o cabelo ensebado e os pés no chão numa noite fria e chuvosa foi de partir o coração. Fiquei imaginando como estaria o bebê que iria usar aquelas fraldas. Se estava com frio, se tinha água quente para o banho, se estava sendo bem alimentado, se a mãe o ninava antes de dormir...
Pior que isso tudo foi o sentimento de culpa. O meu cachorro Frederico, com certeza, é mais bem cuidado do que o bebê que agora está usando aquelas fraldas. Aliás, o Frederico, e muitos outros cachorrinhos, e gatinhos também, têm um tratamento melhor do que muitas crianças neste País.
É uma vergonha. E, infelizmente, não é um pacote de fraldas que vai mudar a vida daquela família.
foto: normandus303.wordpress.com

terça-feira, 11 de agosto de 2009

À Deriva


Ainda não sei bem o que escrever sobre “À Deriva”, do diretor Heitor Dhalia, mesmo de “O Cheiro do Ralo” e “Nina”. Sai da sessão com a impressão de que não havia gostado muito do filme. A fotografia é linda e a ambientação anos 80, perfeita. Mas, algo ressoou em mim que me fez achar um tanto longo e enfadonho.
No dia seguinte, no entanto, acordei gostando do filme. Talvez, no dia em que assisti, eu tenha sido influenciada por uma crítica que metia o pau no roteiro, mas o que importa é que hoje acordei querendo rever “À Deriva”. Como se a história do filme tivesse crescido dentro de mim e, depois de algum tempo, passei a entendê-lo.
Filmado na paradisíaca Búzios, “À Deriva” mostra o desmoronamento de um casamento aos olhos da filha mais velha do casal, Filipa (interpretada pela estreante Laura Neiva), em plena adolescência e alvo constante das investidas dos garotos e rapazes da turma.
Apesar da participação de Débora Bloch, como a mãe da adolescente, e do ator francês Vincent Cassel, como pai, é Laura Neiva quem rouba quase todas as cenas. Ela, aliás, foi descoberta em um perfil do Orkut. Dá para acreditar nisso? Além de Laura, o diretor optou por adolescentes não-profissionais para interpretarem os irmãos mais novos de Filipa e a turma de adolescentes. O resultado ficou muito bom, pois eles passam tanta verdade na atuação que chega a ser um tapa na cara do telespectador.
Enquanto Filipa percebe o interesse do pai por outras mulheres e o quase alcoolismo da mãe, ela vive dramas relacionados à sexualidade e começa a aprender que o mundo dos adultos não é tão linear quanto parece e que as coisas não são tão simples. O filme permite um mergulho no universo humano e suas complexidades. A escassez de diálogos muito explicativos permite que entremos na dinâmica do entendimento da realidade pela adolescente.
Com o decorrer da história, percebemos que tudo ali é muito mais complexo do que imaginávamos. Filipa também vai perceber isso, mas sempre fiel ao jeito introspectivo e desajeitado da personagem. Aliás, vamos descobrindo a verdade por meio dos olhos dela. Percebemos em Filipa as dificuldades do amadurecimento, da passagem para outra fase da vida.
O relacionamento entre Filipa e o pai é muito próximo. Eles são muito amigos e têm uma grande cumplicidade. Dá até para imaginar algo meio incestuoso ali, mas se houver, é muito sutil. Portanto, quando ela percebe que o pai trai a mãe a idéia de perfeição que ela tinha do pai vai abaixo e a menina fica, literalmente, sem chão.
A ambientação anos 80 é um capítulo à parte. Muitas vezes, me senti fazendo parte do filme tão bem retratado ficou esse período na tela. Tudo foi extremamente detalhado para passar o clima da época. Desde os shorts usados pelas meninas e as xícaras de cerâmica, até as câmeras polaroids e as mobiletes. Em nenhum momento a informação de que o filme se passa nos anos 80 e que a casa de veraneio do casal fica em Buzios é explicitada nas falas das personagens. De uma certa forma, esse recurso passa uma idéia de história atemporal e universal. O que deixou o filme muito mais interessante. Fiquei um tempão tentando descobrir onde o filme foi filmado até que alguém comentou que era Búzios. Realmente, deu vontade de conhecer o balneário carioca.